sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Bíblia contém erros?



 

Dizem que cada ser humano necessita fazer três coisas antes de morrer: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.

Ao criarmos “raízes” surge naturalmente uma necessidade de registro, da escrita... do deixar à posteridade seu testemunho de vida e isso não está necessariamente vinculado a sua história literalmente descrita, mas aos fatos. Ou seja, reminiscências que foram importantes para você enquanto ser humano. Entretanto, também não significa dizer que tais fatos ocorreram fora de seu contexto de vida. Agora pensemos não na perspectiva do indivíduo, mas da coletividade de uma nação que começa a surgir, a se delinear e a se estabelecer – Israel.
 

É comum ouvirmos que a bíblia contém disparidades, exageros e que em determinados momentos não condiz fidedignamente com o contexto histórico da época. Há ainda os que contestam a Bíblia como não sendo “a palavra de Deus”.  Com relação a isso, um amado professor de fenomenologia costumava dizer que a Bíblia não é a palavra de Deus, mas contém a palavra de Deus e contendo ela é! Confuso?! Tentarei explicar.

A questão é que o fator motivador da escrita bíblica nunca esteve no registro histórico, como ateus e agnósticos costumam se “ater”, mas  na intimidade, ou seja, no relacionamento de Israel para com seu Deus ( Yhwh).
O texto escrito surgiu da necessidade de deixar para as gerações futuras os ensinamentos e tradições de um povo que teve um encontro com o Deus que é.  Com aquele que não se apresentou por um nome, mas como um verbo, como a ação onde tudo é e onde tudo nele está. Como o “Eu sou”. Mas, isso não impossibilita o evento de ter ocorrido concomitantemente com o registro escrito.

Existem duas correntes teóricas que abordam o assunto: os maximalistas e os minimalistas.  Os minimalistas defendem que primeiro ocorreu o evento e posteriormente seu registro escrito, enquanto, que os maximalistas afirmam a inerrância da bíblia e neste caso a escrita seria momentânea ao fato ocorrido.

Prefiro me ater entre as duas correntes. E nesse sentido posso dizer ser possível um caminho alternativo que possibilite a recuperação da experiência bíblica do povo de Deus e ainda assim ressalte a importância da história na elaboração do fenômeno religioso. Pois, ao entender que a bíblia foi escrita por homens e assim sendo é passível de erros, posso vislumbrar a possibilidade da mesma, em determinados momentos, ser uma reminiscência da tradição do povo, justificando assim discrepâncias em algumas passagens.
 
Vamos esmiuçar mais essa abordagem. Imaginemos uma criança que escuta seu pai contando determinada história e que no dia seguinte essa mesma criança decide contar à mãe a história que escutou do pai. Esse conto seria cheio de detalhes, rico, por assim dizer. Contudo, alguns pontos ditos pelo pai poderiam passar despercebidos na narração do filho. Agora imagine você contando a mesma história ao seu filho uns vinte anos mais tarde. Pontos antes destacados deixariam de ser, e novos dados seriam incorporados para dar vigor ao texto. Contudo, não seria possível dizer que a história deixou de ser a mesma, pois o teor, o foco principal da narrativa foi preservado. Assim ocorre com o texto bíblico. Em alguns livros se conserva mais o evento histórico por ter ocorrido seu registro em proximidade com o fato em si, enquanto, que outros sofrem discrepâncias por estarem em um período maior entre o evento e a escrita.

No entanto, vale ressaltar minha predileção ao minimalismo, pois não consigo vislumbrar, por exemplo, Moíses junto com o povo fugindo de faraó e carregando várias estelas para registrar o feito concomitante com a fuga. É no mínimo um atraso imenso por parte deles carregar tamanho peso deserto afora. Assim sendo, acho válida a pesquisa do texto bíblico em consonância com o contexto histórico oriundos de outras fontes.

Mas, sem sombra de dúvidas, é inconcebível deixar de dar crédito às escrituras, pois, enquanto relacionamento de Yahweh para com seu povo, a Bíblia se mantém infalível e extremamente fiel aos seus preceitos primeiros. Transmitindo não só aos hebreus, mas ao mundo, seu objetivo primordial que era e é, o de levar ao conhecimento de todas as nações que Yahweh é o único Deus a quem devemos adoração. Pois ele não é deus de nome, é Deus de ação.

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. João 1:1

 
Bibliografia

ROSSI, Luiz Alexandre Solano. “Literatura biblica como fonte historiográfica”, Historia e-historia, Campinas, 2005 (http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=historiadores&id=2 0)