quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Aramaico

 

A Bíblia tem seu pilar em três línguas distintas: o Hebraico, o Grego bíblico e o Aramaico. Mas ao “conceituarmos” o Antigo Testamento e o Novo Testamento, por vezes, erroneamente dizemos ter sido esse escrito em grego, enquanto àquele escrito em hebraico. Esquecendo-nos do aramaico, língua presente em ambos os livros.

O Aramaico era muito popular na Babilônia e na Assíria, cuja linhagem literária culta e religiosa era o sumero-acadiano. Nos tempos do reinado de Saul e Davi, temos os estados aramaicos ou sírios mencionados na Bíblia, cf. I Samuel 14:47; II Samuel 8:3-9; 10:6-8.

Tal língua foi trazida para Palestina através dos assírios que levavam com eles os povos subjugados após vencerem as batalhas. Assim, quando conquistaram as pelejas contra Israel espalharam os israelitas por todo seu império. Observamos claramente tal costume na passagem de II Reis 17:24 que menciona explicitamente que entre os povos trazidos para Samaria encontravam-se aramaicos de Hamate.

O aramaico começou a superar o hebraico no uso corrente entre os judeus pelo fato de ser uma língua mais simples. Prova de sua simplicidade está relatada em II Reis 18:26, quando Senaqueribe invadiu Judá no final do século VIII  AEC e os oficiais judeus que dominavam tanto o hebraico quanto o aramaico, pediram ao general assírio que lhes falassem em aramaico. Esta é ainda a razão por que durante os setenta anos do cativeiro babilônico os judeus se esqueceram do uso costumeiro do hebraico, adotando em seu lugar o aramaico. Ao voltarem do cativeiro continuaram falando o aramaico, como se depreende da leitura de Neemias 8:1-3 e 8.

Notamos dessa forma que o aramaico era uma língua mais coloquial e por tal razão preferida por seus falantes, enquanto que o hebraico tornava-se uma língua culta, mais utilizada para a escrita. Muito parecido com o que aconteceu ao latim no processo de dominação dos romanos. Nesse caso, o latim vulgar sobrepujou o latim culto, língua utilizada somente para escrita após o domínio romano.

Voltando ao aramaico, esta era também a língua usada por Jesus, vide a passagem em Mc. 15:34 quando falando para o Pai, Jesus exclama: Eloi Eloi lema sabakhthani, que quer dizer; Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?  E em outras passagens do Novo Testamento (Mc. 5:41; 7:34). Era também falado pela maioria das pessoas na Palestina, bem como pelas primeiras comunidades cristãs. Segundo estudiosos entre os quais se destaca Robertson, Jesus falava aramaico na conversação diária com o povo, mas preferia o grego no ensino público e nas discussões com os fariseus.

Na Ásia Ocidental, a língua aramaica se difundiu largamente, assumindo naquelas regiões e tempo o mesmo papel que assumem em nos dias atuais o francês e o inglês. O aramaico, embora ainda utilizado em certas regiões, foi cedendo lugar ao árabe, e corre o perigo de desaparecer como língua falada, pois hoje é utilizado somente em alguns povoados da Síria. Ele desapareceu como língua coloquial sob o impacto cultural do grego e do latim, já que deixou de ser conhecido pelos cristãos. Entretanto, quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico, dada as suas marcantes semelhanças linguísticas.

Concluímos dessa forma que o aramaico possuiu três períodos distintos: período antigo, período médio (período falado por Jesus) e período recente (que compreende a conquista Árabe). Como toda e qualquer língua não é estática, o aramaico também sofreu e sofre influência do tempo, incorporando assim a cultura dos povos a qual está subjugada. E assim com o passar dos anos foi subdividindo-se em vários dialetos pertencentes a uma mesma fonte matriz.

BARRERA, Julio Trebole. A Bíblia e o livro na Antiguidade. Em: A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã. 2ª Ed. Petrópolis: Vozes, p. 65-130


ALMEIDA. João Ferreira de, Bíblia Revista e Atualizada no Brasil, 2ª Ed. 2006.

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