A Bíblia tem seu pilar em três línguas
distintas: o Hebraico, o Grego bíblico e o Aramaico. Mas ao “conceituarmos” o
Antigo Testamento e o Novo Testamento, por vezes, erroneamente dizemos ter sido
esse escrito em grego, enquanto àquele escrito em hebraico. Esquecendo-nos do
aramaico, língua presente em ambos os livros.
O Aramaico era muito popular na
Babilônia e na Assíria, cuja linhagem literária culta e religiosa era o
sumero-acadiano. Nos tempos do reinado de Saul e Davi, temos os estados
aramaicos ou sírios mencionados na Bíblia, cf. I Samuel 14:47; II Samuel 8:3-9;
10:6-8.
Tal língua foi trazida para Palestina através
dos assírios que levavam com eles os povos subjugados após vencerem as
batalhas. Assim, quando conquistaram as pelejas contra Israel espalharam os
israelitas por todo seu império. Observamos claramente tal costume na passagem
de II Reis 17:24 que menciona explicitamente que entre os povos trazidos para
Samaria encontravam-se aramaicos de Hamate.
O aramaico começou a superar o hebraico
no uso corrente entre os judeus pelo fato de ser uma língua mais simples. Prova
de sua simplicidade está relatada em II Reis 18:26, quando Senaqueribe invadiu
Judá no final do século VIII AEC e os
oficiais judeus que dominavam tanto o hebraico quanto o aramaico, pediram ao
general assírio que lhes falassem em aramaico. Esta é ainda a razão por que
durante os setenta anos do cativeiro babilônico os judeus se esqueceram do uso
costumeiro do hebraico, adotando em seu lugar o aramaico. Ao voltarem do
cativeiro continuaram falando o aramaico, como se depreende da leitura de
Neemias 8:1-3 e 8.
Notamos dessa forma que o aramaico era
uma língua mais coloquial e por tal razão preferida por seus falantes, enquanto
que o hebraico tornava-se uma língua culta, mais utilizada para a escrita.
Muito parecido com o que aconteceu ao latim no processo de dominação dos
romanos. Nesse caso, o latim vulgar sobrepujou o latim culto, língua utilizada somente
para escrita após o domínio romano.
Voltando ao aramaico, esta era também a
língua usada por Jesus, vide a passagem em Mc. 15:34 quando falando para o Pai,
Jesus exclama: Eloi Eloi lema
sabakhthani, que quer dizer; Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste? E em outras passagens do
Novo Testamento (Mc. 5:41; 7:34). Era também falado pela maioria das pessoas na
Palestina, bem como pelas primeiras comunidades cristãs. Segundo estudiosos
entre os quais se destaca Robertson, Jesus falava aramaico na conversação
diária com o povo, mas preferia o grego no ensino público e nas discussões com
os fariseus.
Na Ásia Ocidental, a língua aramaica se
difundiu largamente, assumindo naquelas regiões e tempo o mesmo papel que
assumem em nos dias atuais o francês e o inglês. O aramaico, embora ainda
utilizado em certas regiões, foi cedendo lugar ao árabe, e corre o perigo de
desaparecer como língua falada, pois hoje é utilizado somente em alguns
povoados da Síria. Ele desapareceu como língua coloquial sob o impacto cultural
do grego e do latim, já que deixou de ser conhecido pelos cristãos. Entretanto,
quem conhece o hebraico pode com facilidade ler e entender o aramaico, dada as
suas marcantes semelhanças linguísticas.
Concluímos dessa forma que o aramaico possuiu
três períodos distintos: período antigo, período médio (período falado por
Jesus) e período recente (que compreende a conquista Árabe). Como toda e
qualquer língua não é estática, o aramaico também sofreu e sofre influência do
tempo, incorporando assim a cultura dos povos a qual está subjugada. E assim
com o passar dos anos foi subdividindo-se em vários dialetos pertencentes a uma
mesma fonte matriz.
BARRERA, Julio Trebole. A Bíblia e o
livro na Antiguidade. Em: A Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã. 2ª Ed.
Petrópolis: Vozes, p. 65-130
ALMEIDA.
João Ferreira de, Bíblia Revista e Atualizada no Brasil, 2ª Ed. 2006.
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