Contexto político no Evangelho de Marcos
Como já vimos anteriormente, os romanos
permitiam a existência de governantes nativos vassalos de Roma na Palestina. E Herodes
fora um desses. Embora o senado romano tenha aprovado seu ofício o mesmo foi
forçado a obter o controle da Palestina mediante o poder de armas, já que por
ser idumeu (descendente de Edom e Esaú) não era visto com bons olhos pelos
judeus.
Apesar das atrocidades cometidas por ele
como governante astuto, invejoso e cruel sua política foi eficiente e tentou
após atrozes atos conciliar-se com o povo, reformando e embelezando o templo de
Jerusalém.
Assim, após sua morte, deixou grande
legado aos herdeiros: o Templo em Jerusalém.
Contudo o mesmo constituiu obra morosa,
segundo o evangelho de João, Jesus pregara num Templo ainda inacabado.
No ano em estudo a política se apresentava
com o Império Romano de Cláudio, sendo Pôncio Pilatos procurador da Judéia e,
Antípas tetrarca da Galiléia.
Como sumo sacerdote estava José Caifás,
genro de Anás (Jo. 18:13), sendo este o responsável por presidir o Sinédrio.
Na época o sacerdócio era o
principal poder político, atuando o sacerdote como conselheiro junto ao
governador romano. Por possuir influência sobre a população era capaz de moldar
a opinião pública (como o ocorrido na crucificação de Jesus).
Além desses, grupos como: fariseus,
saduceus, zelotes e herodianos, também exerciam poderes políticos.
Em tal período a religião confundia-se
com política e quem detinha o poder no Templo conseguia manipular o povo. Logo,
o Templo, a sinagoga e o sinédrio eram os arquétipos do poder político da época.
Vejamos cada um separadamente.
Sinédrio
Era o Supremo concílio dos judeus
(Assembléia) e equivalia ao senado dos gregos e romanos. Suas atribuições se
davam no âmbito legal e religioso.
Era composto por 70 membros
cuidadosamente escolhidos, como os escribas e possuía certa autonomia dado por
Roma.
Sinagoga
Era o lugar onde se celebrava o
culto religioso e provavelmente teve início no período do cativeiro babilônico
como substituto do Templo. Foi introduzida por Esdras na Palestina e logo se
difundiu por todo Israel.
Desta forma, logo surgiram notícias
a respeito da existência de sinagogas em vários lugares onde havia judeus fora
da Palestina.
Os membros (homens da Sinagoga) eram
em números indeterminado e sua reunião dava-se a cada sábado para adoração e ao
quinto dia da semana para ouvir a leitura das escrituras. Contudo qualquer
pessoa e em qualquer tempo, podia entrar na sinagoga.
Templo
O templo representava o centro da
vida judaica da época, pois era ali que todos os judeus se reuniam para prestar
culto ao Deus YHWH. Tanto moradores locais como judeus estrangeiros.
Chamado de morada do Deus único, era
administrado pelos sacerdotes que tinham grande poder sobre o povo, chegando a
julgar quem estava mais perto de Deus, ou seja, quem o adorador mais puro.
Devida a tal autoridade, por parte
dos sacerdotes, o Templo acabou por ser tornar a vida política e religiosa da
época.
Neste período ele possuía riquezas
imensas, sendo considerado o grande tesouro nacional e toda a Cúpula
governamental agia a partir dele.
Desse modo a morada de Deus, o
lugar de adoração ao Deus Santo e puro foi tornando-se impuro pela corruptela
do governo. (Lc. 19: 45-46; Mt. 21:12-13; Mc. 11:15-17)
Contexto
Histórico do Evangelho de Marcos
A datação do evangelho de Marcos é
imprecisa, mas tudo leva a crer que tenha se dado nos primórdios do período da
constante crise entre a Judéia e Roma, crise essa que desencadeou na destruição
do Templo em 70.EC.
Dessa forma, o cenário religioso,
geográfico e histórico permanece o mesmo do tempo de Cristo. Mantendo-se assim
toda insatisfação dos judeus para com o Império Romano.
É muito provável que sua compilação
tenha ocorrido em 65EC, embora os críticos divirjam quanto à datação. Muitos apregoam
que tal composição se deu antes ou então posteriormente a morte de Pedro (entre
55 – 65 EC).
O fato é que o escritor de Marcos
não é um discípulo ocular dos fatos, não é conhecido e sua teologia se dá sob a
óptica de Pedro.
Muitos apontam para João Marcos, um
pupilo de Pedro que por muitas vezes também se encontrou em contato direto com
Paulo.
Outra questão a ser considerada é
que os primeiros cristãos desconheciam o autor do evangelho.
O manuscrito mais antigo que nos
preservou informações sobre o livro de Marcos foi o papiro Chester Beatty (p45) do século III, os próximos
manuscritos já são testemunhas principais de toda Bíblia, O Códice do Vaticano (B) e o Códice Sinaítico (a) do século IV.
Segundo testemunho de Papias[1]e
da tradição da Igreja antiga, há uma alegação por parte deste de ter ouvido na
juventude um relato de um cidadão de Éfeso[2]:
Marcos na qualidade de hermeneuta de
Pedro, anotou com cuidado, mesmo que não em forma artística tudo o que lembrava
que o Senhor tinha dito e feito...]
“...ele não conheceu o Senhor, nem foi
discípulo dele, mas de Pedro, mais tarde, como eu já disse, que costumava
ensinar no estilo dos Chreiai (termo técnico para historias curtas e sem recursos artísticos), não como
alguém que quisesse dar uma forma aos relatos sobre o Senhor. Marcos, portanto,
não cometeu nenhum erro quando anotou
algumas
coisas desta maneira. Com só uma coisa ele tomava muito cuidado, com muita
fidelidade na transmissão, ou seja, que não esquecesse nada do que tinha ouvido
e dissesse alguma coisa que não fosse verdade”.
Entretanto, muitos pesquisadores
discordam de Papias dizendo não ter o excerto valor histórico, entre eles:
Marxsen, Bultmann, Conzelmann, Vielhauer, Haenchen, Niederwimmer e outros. Por
outro lado há os que concordem que em termos gerais Papias relatou os fatos
corretamente. Dentre eles: Holtzmann, Hauck, Schniewind, Wikennhauser, Schmid e
por último, Kürzinger, Gnilka, Hengel e outros.
Discordâncias à parte, a questão em
voga é o que motivou João Marcos a transcrever uma espécie de diário de alguém
que vivenciou os feitos dos Messias. Assim, o que explicaria a autoria e o
porquê da necessidade do registro escrito já que os ensinamentos de Cristo eram
passados pela tradição oral entre as comunidades?
O Evangelho de Marcos possuía tamanha
importância que serviu de base aos evangelhos de Matheus e Lucas cujas escritas
apresentam-se de forma bem mais rebuscadas.
As evidências apontam para a seguinte
teoria: quando a perseguição dos Cristãos começou a se dar de forma mais austera,
Pedro, Paulo e outros que continham as reminiscências dos ensinamentos de Jesus
perceberam a necessidade de registrar por escrito, ante a eminência de suas
mortes, todo ministério de Cristo a fim de que as boas novas fossem
disseminadas ao maior número de pessoas e de forma mais fidedigna possível.
Assim a tradição oral já não mais se
mostrava uma forma eficaz em conservar a vida e ministério do Messias. Logo, é
provável que João Marcos tenha sido incumbido de uma forma rápida a registrar
toda vivência de Pedro para com o filho de Deus.
Outra particularidade do livro é que o
mesmo tem por início a frase: Princípio
do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Não há explicação sobre a infância e o
nascimento do menino Jesus. A narrativa já começa em seu precursor João Batista
e o posterior batismo do Messias. Muito diferentemente dos outros sinópticos
que narram à origem do Cristo. Tal fato se deve ao público que o Evangelho de
Marcos pretendia alcançar, ou seja, os romanos.
Não havendo necessidade de assegurar
para o público que Jesus era o messias anunciado pelos profetas, uma vez, que a
cultura dos Romanos era outra.
Dessa forma, Marcos apresenta Jesus
Cristo como o filho de Deus que veio salvar todos aqueles que nele crerem e não
somente os judeus. A linguagem e a abordagem é outra por ser um público-alvo diferente.
No próximo tópico veremos o texto como
mensagem.
[2] Excerto retirado do livro: POHL,
Adolf. O Evangelho segundo Marcos,
comentário da esperança. p. 15. Curitiba: Esperança. 1998.
Excelente material, obrigado pela postagem
ResponderExcluirParabéns pela publicação deste material, excelente!
ResponderExcluirMuito obrigado. Ajudou muito.
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