Dizem que cada ser humano necessita
fazer três coisas antes de morrer: plantar uma árvore, ter um filho e escrever
um livro.
Ao criarmos “raízes” surge naturalmente uma necessidade de registro,
da escrita... do deixar à posteridade seu testemunho de vida e isso não está
necessariamente vinculado a sua história literalmente descrita, mas aos fatos. Ou
seja, reminiscências que foram importantes para você enquanto ser humano.
Entretanto, também não significa dizer que tais fatos ocorreram fora de seu
contexto de vida. Agora pensemos não na perspectiva do indivíduo, mas da
coletividade de uma nação que começa a surgir, a se delinear e a se estabelecer
– Israel.
É
comum ouvirmos que a bíblia contém disparidades, exageros e que em determinados
momentos não condiz fidedignamente com o contexto histórico da época. Há ainda
os que contestam a Bíblia como não sendo “a
palavra de Deus”. Com relação a isso, um amado professor
de fenomenologia costumava dizer que a Bíblia
não é a palavra de Deus, mas contém a palavra de Deus e contendo ela é!
Confuso?! Tentarei explicar.
A
questão é que o fator motivador da escrita bíblica nunca esteve no registro
histórico, como ateus e agnósticos costumam se “ater”, mas na intimidade,
ou seja, no relacionamento de Israel para com seu Deus ( Yhwh).
O texto escrito surgiu da necessidade de deixar para as gerações futuras os
ensinamentos e tradições de um povo que teve um encontro com o Deus que é. Com aquele que não se apresentou por um nome,
mas como um verbo, como a ação onde tudo é e onde tudo nele está. Como o “Eu
sou”. Mas, isso não impossibilita o evento de ter ocorrido concomitantemente
com o registro escrito.
Existem
duas correntes teóricas que abordam o assunto: os maximalistas e os
minimalistas. Os minimalistas defendem
que primeiro ocorreu o evento e posteriormente seu registro escrito, enquanto, que
os maximalistas afirmam a inerrância da bíblia e neste caso a escrita seria momentânea
ao fato ocorrido.
Prefiro
me ater entre as duas correntes. E nesse sentido posso dizer ser possível um caminho alternativo que possibilite a recuperação da
experiência bíblica do povo de Deus e ainda assim ressalte a importância da
história na elaboração do fenômeno religioso. Pois, ao entender
que a bíblia foi escrita por homens e assim sendo é passível de erros, posso
vislumbrar a possibilidade da mesma, em determinados momentos, ser uma
reminiscência da tradição do povo, justificando assim discrepâncias em algumas
passagens.
Vamos esmiuçar mais essa abordagem. Imaginemos uma criança que escuta
seu pai contando determinada história e que no dia seguinte essa mesma criança
decide contar à mãe a história que escutou do pai. Esse conto seria cheio de
detalhes, rico, por assim dizer. Contudo, alguns pontos ditos pelo pai poderiam
passar despercebidos na narração do filho. Agora imagine você contando a mesma
história ao seu filho uns vinte anos mais tarde. Pontos antes destacados
deixariam de ser, e novos dados seriam incorporados para dar vigor ao texto.
Contudo, não seria possível dizer que a história deixou de ser a mesma, pois o
teor, o foco principal da narrativa foi preservado. Assim ocorre com o texto
bíblico. Em alguns livros se conserva mais o evento histórico por ter ocorrido
seu registro em proximidade com o fato em si, enquanto, que outros sofrem
discrepâncias por estarem em um período maior entre o evento e a escrita.
No entanto, vale ressaltar minha predileção ao minimalismo, pois não
consigo vislumbrar, por exemplo, Moíses junto com o povo fugindo de faraó e carregando várias estelas para registrar o feito concomitante com a fuga. É no
mínimo um atraso imenso por parte deles carregar tamanho peso deserto afora. Assim sendo,
acho válida a pesquisa do texto bíblico em consonância com o contexto histórico
oriundos de outras fontes.
Mas, sem sombra de dúvidas, é inconcebível deixar de dar crédito às
escrituras, pois, enquanto relacionamento de Yahweh para com seu povo, a Bíblia
se mantém infalível e extremamente fiel aos seus preceitos primeiros.
Transmitindo não só aos hebreus, mas ao mundo, seu objetivo primordial que era
e é, o de levar ao conhecimento de todas as nações que Yahweh é o único Deus a
quem devemos adoração. Pois ele não é deus de nome, é Deus de ação.
No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. João 1:1
Bibliografia
ROSSI,
Luiz Alexandre Solano. “Literatura biblica como fonte historiográfica”, Historia e-historia, Campinas, 2005 (http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=historiadores&id=2 0)
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