segunda-feira, 4 de março de 2013

As Mulheres como propriedade privada no Antigo Israel - Parte I

Uma leitura a partir do livro de Êxodo – 19, 20, 22 e 23

 
No início do livro de Êxodo vemos mulheres ativamente atuantes numa “pré-sociedade” do Israel tribal, como por exemplo, Miriã, irmã de Moisés, que exercia a função de profetiza aos exilados no Egito, sendo ela a responsável pela celebração de júbilo a Yhwh após a passagem pelo Mar Vermelho. (Êxodo 15. 20,21)

Não só Miriã como também outras mulheres aparecem em posição de destaque: as parteiras Séfora e Fuá, a mãe de Moisés, a filha de Faraó, Zípora, Joquebede, Eliseba...todas enaltecidas nos textos e na comunidade. Entretanto, conforme Israel foi se estabelecendo em terra, ganhando contornos de uma pré-monarquia, as mulheres foram ao mesmo tempo perdendo status na sociedade.
É possível que as mulheres anteriormente descritas tenham sido “exaltadas” no cativeiro para enaltecer a figura de Moisés, já que a importância das mesmas se dá na preservação da vida do homem que libertaria os cativos do Egito. Após a fuga do julgo de Faraó, uma profetiza como Miriã, já não é “necessária” ou vista com bons olhos no Israel pré-monárquico, pois o povo tem a Moisés.

Além disso, toda mulher em determinado período do mês fica impura, sendo inconcebível ir ao monte para execução dos rituais de adoração ao Deus de Israel. Os homens então passaram a manter distância da mulher para não se contaminar com sua “imundícia” e assim poderem prestar culto para Yhwh. Dessa forma as mulheres começaram a ser excluída da comunhão direta com Deus. A elas cabia adorar o Deus libertador em silêncio, no interior do lar e muito longe dos lugares altos.
A partir da fixação de Israel, a saber, dos textos da aliança utilizados como base para este estudo, as mulheres passaram a ser vistas pela óptica sexual: como mães, filhas, concubinas e viúvas. A única identidade “ainda” preservada, mas não menos menosprezada é a figura da feiticeira, que até mesmo pelo fato de não se deixar subjugar continuando com sua atividade pública, passa a representar uma ameaça aos homens e ao poder que estes possuem como “mediadores diretos e exclusivos de Yhwh” e essa foi a principal razão de tais mulheres serem continuamente perseguidas.

Ao se fixar em terra que emana leite e mel, fixou-se também o poder patriarcal e assim a jornada de trabalho das mulheres passou a ser muito superior à dos homens. Esta era a “importância” das mulheres dentro do Antigo Israel: o “privilégio” de trabalhar muito para manter comunidade.
Eram elas as responsáveis pelo processo produtivo do campo, a transformação da matéria prima em alimento e a produção das vestimentas de todos de sua família, afora os afazeres diários como cuidar dos filhos e principalmente gerá-los, mantendo assim a descendência da tribo.

O livro da aliança é reconhecido como o conjunto jurídico mais antigo do AT e, por isso mesmo, nos baseará para falar da violência contras as mulheres. Conforme elas foram perdendo voz no antigo Israel os homens foram ganhando prestígio e poder. E dessa forma, a violência contra a mulher passou a ser instaurada e até justificada. Isso nos fica claro nos textos de Êxodo 19, 20, 22 e 23.
Nele, há várias formas de violência, deixando a mulher de ser humana para tornar-se um objeto de usufruto do homem. Assim observamos: filhas vendidas por seus pais, escravas entregues pelo senhor como pagamento a seus escravos, mães golpeadas e amaldiçoadas na família, escravas castigadas fisicamente,  filhas abusadas sexualmente ou seduzidas, viúvas oprimidas dependendo da ajuda do clã e feiticeiras perseguidas.

Devemos entender que o livro da aliança é escrito de forma patriarcal, isso quer dizer que há uma visão hierárquica de superioridade do sexo masculino. O ʼadon  é o senhor das escravas; o pai é proprietário das filhas e o marido é dono da mulher. As mulheres descritas estão sempre subjugadas a alguma forma de violência provinda do sexo masculino.
O ambiente agrário que permeia o texto de Êxodo contribui de certa forma para a violência que essas mulheres sofrem, pois como centro da agricultura temos o boi, a ovelha e o jumento, juntamente com o cultivo de cereais e vinhas; além da escavação de poços que começou nessa época. Trata-se de uma sociedade que depende da solidariedade entre as famílias, e no foco principal temos a mulher como mantenedora não só da casa como de grande parte dos afazeres do Clã.

Dentro desse cenário de opressão, ocorria também muito roubo de gado e saque às moradias o que acabava por gerar conflitos que desencadeavam na queima das plantações. E uma vez vendo-se sem gado e sem os alimentos, o dono da propriedade, tinha como única saída negociar suas filhas como escravas (Ex. 21.7), ou então, fazer-se ele próprio escravo.
Em Êxodo 21:14 notamos sequestros de pessoas e assassinatos por traição e nos capítulos seguintes observamos também violência dos filhos contra os pais, brigas entre vizinhos e filhas estupradas. Ou seja, o ambiente que permeia o Israel pré-monárquico é de constante conflito e a mulher passa a constituir mais um bem a ser negociado quando a escassez aumenta.  

No próxima postagem veremos mais de perto cada uma dessas mulheres e a forma como elas serviam de moeda ao seu ʼadon (senhor).

Um comentário:

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