Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.
Filipenses 1:21-22
Filipenses 1:21-22
O homem sempre esteve diante
do medo e da dúvida da morte e nunca soube muito bem como lidar com essa questão.
Ainda mais em tempos remotos quando o ser humano não possuía um cânon a seguir,
não tinha instruções para se basear. Então como os povos mais antigos
conseguiam lidar com a questão da morte?
Tomando por base os mitos
do Oriente Médio, observamos que os mesmos tratavam a morte como um processo de
renascimento, ou seja, “o morrer fazia
parte do renascer”. E essas questões de dor e morte eram tratadas dentro do
mito de fertilidade de diferentes povos do antigo Oriente.
Então como conceituar
“mito” sob o prisma da contemporaneidade?
O escritor Mircea Eliade a
esse respeito diz:
Constitui a história
dos atos dos seres sobrenaturais;
Essa história é considerada verdadeira e sagrada;
O mito se refere sempre a uma criação, conta como algo começou a
existir, ou como um comportamento, uma instituição ou um modo de trabalhar
foram fundados. E por isso os mitos constituem os paradigmas de todo ato humano
significativo;
Que conhecendo o mito conhece-se a origem das coisas. E desse modo é
possível dominá-la e manipulá-la a vontade.
(...) que de uma maneira ou de outra vive-se o mito no sentido em que
se fica imbuído de força sagrada e exultante dos acontecimentos evocados
ritualizados.
Logo, podemos
“simplificar” o conceito de mito como sendo a tentativa de explicar aquilo que
o ser humano desconhece, ou seja, o sobrenatural.
Por
exemplo, como se deu a criação do homem? Tal arquétipo pode ser encontrado em
diversas culturas, sobre diferentes ópticas, mas que convergem para um ponto em
comum: um ser supremo e soberano (divino) resolve fazer sua criação (homem).
Observe o excerto abaixo do mito babilônico em
consonância com o Gênesis da Bíblia Cristã.
A deusa então concebeu em sua mente uma imagem cuja essência era a
mesma de Anu, o deus do firmamento. Ela mergulhou as mãos na água e tomou um
pedaço de barro; ela o deixou cair na selva, e assim foi criado o nobre
Enkidu”.(SANDARS, 1992, p. 94).
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.(GENESIS,
cap. 1, ver. 26).
“Então formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas
narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”.(GENESIS, cap.
2, ver. 7).
Assim como no relato bíblico que o homem era
puro e sem maldade, na epopéia de Gilgamesh há semelhança na narrativa.
“Ele
era inocente a respeito do homem e nada conhecia do cultivo da terra. Enkidu
comia grama nas colinas junto com as gazelas e rondava os poços de água com os
animais da floresta; junto com os rebanhos de animais de caça, ele se alegrava
com a água”.(SANDARS, 1992, p. 94).
“Eis
que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de
toda a terra, e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será
para mantimento. E a todos os animais da terra e a todas as aves dos céus e a
todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será
para mantimento”. (GENESIS, cap. 1, ver. 29-30).
Dessa
forma, podemos verificar que o homem procura no mítico uma explicação não só
para a criação do mundo, mas para questões mais complexas e que o desnorteia,
dentre essas: a morte.
Sob
essa abordagem o mito passa a ser instrumento de sabedoria que guia os povos
antigos mantendo-os em comunhão com o “sagrado”.
Joseph
Campbell diz que as tradições mitológicas
do mundo ensinam que a morte não é o fim.
A
morte é retratada em vários mitos do Oriente, como no Inanna (deusa mesopotâmia
da fertilidade), que a morte significa humilhação; e que todo aquele que por
ela passar terá um renascimento do seu ser.
Assim
como no Livro dos mortos, no qual se
afirma sobre o mito de Osíris, que o ser humano não é condenado, uma vez que
quem morre sobre solo egípcio pode voltar à vida sobre a proteção do deus do
cereal (Osíris).
Semelhantemente
como a semente tende a morrer para se tornar fecunda e aprimorar-se como uma
planta vistosa, assim o morrer surge como uma necessidade para crescimento do
ser humano sob a visão mitológica dos povos mais antigos oriundos do Oriente
Médio.
Também
para nós, o morrer não chega a ser diferente, já que para viver o evangelho
puro e simples, é necessário ao velho homem morrer, para que em Cristo uma nova
criatura possa viver. Somos postos no mundo como semente que precisa e deve
morrer para se transformar em árvore frutífera. Assim, cada semente (ser
humano) poderá transformar-se em uma única árvore, com características e
serventia próprias, sabendo que cada semente só pode germinar uma única vez.
O morrer para o mundo nos
torna solo fértil para uma nova consciência em Jesus. Assim, só é possível gerar
frutos aquele que um dia morreu.
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