Jesus novamente estava saindo da Judéia e indo em
direção a Galiléia quando decidiu seguir pelo caminho que passava por Samaria[1],
pois ele naquele lugar tinha um propósito.
E chegando numa cidade chamada Sicar, resolveu sentar
para repousar junto a uma fonte, pois se achava cansado da viagem.
E já começava a anoitecer quando uma mulher
samaritana foi tirar água do poço. E Jesus virando-se para mulher lhe disse: −
Me dê um pouco de água.
Mas a mulher chocou-se com o pedido de Jesus por
reconhecer que ele era judeu.
E falou: − Como você pode pedir água para mim,
sabendo que sou samaritana?
Ao que Jesus respondeu: − Se você conhecesse o amor
de Deus, seus propósitos e soubesse quem sou e tivesse sede... Ah! Você
receberia água viva.
E então a mulher perguntou para Jesus onde ela
poderia encontrar a água viva. Pois reconheceu que Cristo era um homem de Deus.
E Jesus olhando para aquela mulher simples disse: se
alguém beber da água desse poço voltará a ter sede, mas, se beber da água que
eu der, nunca mais terá sede. Porque a água que dou faz brotar na pessoa que a
recebe uma fonte que jorra para vida eterna.
E instantaneamente a mulher quis receber da água de
Cristo para que não mais voltasse a ter sede.
E então Jesus disse para ela que trouxesse também
seu marido. Mas a mulher lhe dissera que não tinha marido. E Jesus lhe revelou
saber do fato e contou-lhe que tivera cinco maridos anteriormente, mas o homem
com a qual aquela vivera na atualidade não era marido seu.
E nisto testificou ela de que verdadeiramente Jesus
vinha da parte de Deus, achando que era um profeta.
E Jesus disse então à Samaritana: os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais
que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adorem o
façam em espírito e em verdade.
E a mulher respondeu: Senhor, eu sei que o Messias
vem; e quando ele vier, nos anunciará tudo.
E então Jesus olhando a samaritana disse: Sou Eu. É
o Messias que fala contigo.
João 4:3-26
Nessa
altura da leitura você pode estar se perguntado: o que tem o texto a ver com o
título? Pois bem...tenha calma, chegaremos lá.
Um
dia desses escutei a seguinte afirmação: “Ah...essa
pessoa está sofrendo no hospital, porque é idólatra, adora santos, e precisa se
converter. Então Jesus a está fazendo passar por tudo isso para que seja
salva!”
E
tal afirmação me deixou muito entristecida!
Por
causa dos santos? Não! Por causa das palavras dessa pessoa? Também Não! Mas, pelo
fato de tal afirmação ter partido de uma pessoa que teoricamente lê a Bíblia.
Imediatamente
me lembrei da passagem de Lucas 12:13-15:
E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize a meu irmão
que reparta comigo a herança.
Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz
ou repartidor entre vós?
E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da
avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.
Ora
se o próprio Deus encarnado não se colocou por nosso juiz, como podemos ter a pretensão
de sermos os “guardadores” da salvação?
O
texto de Lucas se refere à avareza material, mas vivemos tempos de avareza
espiritual. Estamos nos constituindo como os novos fariseus, sendo nós, e,
somente nós povo de propriedade exclusiva de Deus. E assim estamos por inverter
valores. Deus passa a ser nosso e não nós dele!
Por
que a mulher Samaritana? A meu ver por dois motivos. E esta é apenas a
interpretação de uma Cristã que se tivesse nascido no século XVIII teria sido
queimada na fogueira como herege e ainda hoje incorro no risco de ser julgada
pelo que irei escrever agora. Entretanto, estando minha consciência em Cristo e
em seus ensinamentos, não temo o julgamento de homens. Isso posto, retomo o
raciocínio.
Um
dos motivos de Jesus escolher uma Samaritana é exatamente para “quebrar” com
esse dogma de povo santo de propriedade exclusiva que os judeus tanto se
gabavam ontem e nós hoje. E o outro motivo é por ser uma mulher. Naquele tempo
as mulheres eram vistas como menores perante os homens. E Cristo escolhe uma
pessoa de Samaria e ainda por cima, mulher.
Como
Jesus Cristo é maravilhoso! Ele enaltece os excluídos, caminha com eles, entra
em suas casas, senta-se às suas mesas e escancara sua misericórdia e compaixão.
E ainda assim, não vemos o que está claro, ou melhor, insistimos em não
aceitar. E prosseguimos achando que somente os evangélicos serão salvos!
Me
pus a imaginar como pessoas que se colocam no patamar de “promotoras
celestiais” devem achar que é no céu...
−
Vamos lá gente!!! Todos os crentes, por favor, aqui na frente. Vocês possuem
passe livre!
−
Ih!! Você é muçulmano. Pois bem, temos que analisar sua situação...tá,
tá...você pode entrar porque crê que há um só Deus!
−
Humm...Você é aquele que praticava a magia negra né?! E se converteu nos 45 minutos
do segundo tempo. Ah!... Você terá que ir para o final da fila. Primeiro os
santificados de Deus. Depois te deixo entrar.
E
por aí vai...
Que
triste! Que lamentável! E certamente que susto levará os que assim acreditam!
Falamos
da água benta e colocamos copo d’água em cima da televisão para ser abençoado e
bebemos para receber a bênção. No entanto o que Jesus nos diz?! Eu sou a fonte
de água viva. Aquele que beber jamais terá sede!
Reclamamos
de quem se benze e de quem é supersticioso, mas passamos óleo ungido, para nos
proteger.
Ora,
os profetas ungiam reis! Você pode se questionar. Sim, é verdade. Mas quando
Jesus foi ungido, ele estava sendo preparado para morte, para nos ungir não com
óleo, mas com seu sangue remidor! E assim sendo, nada mais poderá nos proteger,
nos “santificar” do que o sangue do Cordeiro.
Criticamos
pessoas que invocam espíritos, santos, entidades, demônios, ou seja, lá como
queiram chamar, e passamos horas a fio invocando dentro da “Igreja” esses seres
para tirá-los dos possessos, enquanto deveríamos estar anunciando o evangelho
de Jesus para tais pessoas. Pois a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus.
E quando a palavra entra, a verdade é revelada e toda alma é liberta de
qualquer coisa. Mas deixamos de prestar culto a Deus para darmos mais atenção
àquele que já foi vencido na cruz do calvário.
Também
falamos daqueles que enaltecem a energia, o pensamento positivo e então
declaramos vibrantemente nos cultos: Tome posse do que é seu!!! É praticamente
o livro “The secret” dos evangélicos.
E
prosseguimos sendo senhores detentores das verdades absolutas, ao dizer que
aqueles que adoram imagens não serão salvos, mas ao mesmo tempo enaltecemos
pastores e cantores gospel na mesma proporção.
Eu
poderia passar horas aqui fazendo comparações de coisas que criticamos no mundo
e fazemos igualmente. Coisas que nada tem a ver com os ensinamentos de Jesus
para nós. Nossa! Como adoramos um rito!!!
Não
estou aqui defendendo a adoração a santos, teologia da prosperidade,
espiritismo ou nenhuma outra coisa. Só estou querendo mostrar que agimos como fariseus
orando alto, batendo no peito, fazendo estardalhaço aos homens, mas que estamos
seguindo caminho tão perigoso quanto aqueles que não conhecem os ensinamentos
de Cristo.
Jesus
nos diz que chegará dias em que o joio será separado do trigo dentro das
igrejas e então ficaremos surpresos de ver muitos do “povo santo” de fora
enquanto muitos “perdidos” reunidos ao trigo por serem ovelhas de Deus.
E
então me pergunto e pergunto também a você: Que diferença há entre lá e cá?
Sinceramente não vejo santidade nem aqui nem acolá!
Jesus
levou sobre ele todos os nossos pecados, todas as nossas limitações, dores e
ignorâncias. E nos afirmou que delas já não se lembra. Então porque nos
colocamos como julgadores de quem deve ou não receber a salvação? Será que só
seremos salvos se chamarmos Jesus pelo nome?
Abraão
por acaso chamou Yahweh de Jesus? Não! E Moisés... Foi em nome de Jesus que
retirou o povo do Egito, ou em nome do Eu Sou que apareceu a ele na sarça
ardente? E por acaso temos alguma dúvida sobre a salvação destes homens?
Quem
decide a salvação? Eu, você ou o Eu Sou?
A
realidade é que se dependesse de nossa santidade estaríamos todos igualmente
queimando no inferno! Ou por acaso, temos uma lupa capaz de enxergar no livro
da vida os nomes lá escritos? Quais são os escolhidos de Deus, você pode
afirmar?! Será que salvaríamos o ladrão na Cruz?
Quanto
à frase que escutei sobre o doente no hospital, diria que devemos nos preocupar
mais em ler a Bíblia, em pedir discernimento a Jesus para não incorremos em
erros como esses e não acabarmos pecando, por achar que idolatria é somente
adoração a santos. Existem vários outros tipos de idolatrias que cometemos
todos os dias, mas delas não damos conta.
Devemos agir como aquela passagem que
diz tira a trave de teus olhos e só
depois se preocuparás com o cisco no olho de teu irmão. Porque sinceramente,
um Deus que deixa a pessoa sofrer para alcançar a salvação, pode ser Baal, Set,
Tiamat, Moloque ou qualquer outro, menos Jesus ao qual eu sirvo e conheço! Caso
contrário, como ficaria a afirmação de 2 Coríntios 12:9? “A minha graça te basta!”
O
preço já foi pago!
Se
por acaso, uma pessoa encontra-se enferma num leito de hospital, ela está com a
permissão de Deus e para um propósito dele, que não cabe a nós saber. Mas com
toda certeza e fé que tenho em Jesus, posso afirmar que não é jamais no intuito
de fazer sofrer o doente. Pois Jesus Cristo é Deus que cura e não que tortura.
Jesus
nos salva por graça e de graça!
[1]
Nos tempos de Jesus é sabido que os judeus não se comunicavam com os
Samaritanos. Logo, a viagem da Judéia para Galileia era feita normalmente atravessando o Jordão para oriente junto
de Damyiah, a norte de Jericó, passando por terreno plano do além-Jordão, para
atravessar de novo o Jordão, junto de Bet-Shean, um pouco a sul do mar da
Galileia.
Embora o caminho por Samaria fosse geograficamente
mais curto, os judeus não cogitavam tal possibilidade. E a escolha de Cristo
pelo caminho de Samaria se fez por razões ministeriais e não territoriais.
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