O
Coração e a Bíblia
Discussões
filosóficas ou científicas a parte é no sentido metafórico do coração que quero
me ater, em sua visão cardiocêntrica[1].
Não podemos desprezar toda bagagem da antiguidade na tentativa de compreender o
homem e as coisas sagradas.
A
Bíblia está repleta de passagens que apontam o lebad como centro dos sentimentos, sabedoria, pensamentos, vontade,
paixões, etc. Para os judeus o coração é o órgão capaz de entrar em contato com
Deus, pois Yahweh fala ao lebad do
homem.
Vejamos
algumas atribuições do coração:
Funções
e designações do Lebad
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Versículos
correspondentes
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Sede
dos sentimentos, da coragem
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2Cr. 17.6
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Tomar um coração é tomar coragem
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2Sm 7. 27
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A alegria reside no coração
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Dt.28. 47 – Jz 19.9 – Zc 10.7 – Sl 45.2.
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Responsável pelo sofrimento e aflição
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Jr 4.19 – Is 65.14.
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Fonte
de soberba
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Jr 49.16 – 48.29
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Simpatia
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2sm 15.13 – Esd 6.22 – Ml 3.24
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Preocupação
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1 Sm 9.20; 25.25
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Compaixão
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Os 11.8
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Irritação
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Dt19.6 – Pr 23.17
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Resignação
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Pr 14.30
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Cobiça
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Sl 21.3
|
E
estas são apenas algumas aplicações que a bíblia dá ao coração. Ou seja, tanto
no AT como no NT tudo reside no coração. Um homem de coração é um homem
sensato, prudente; o tolo foi aquele cujo coração falhou; o vinho faz o homem
perder o coração, ou melhor, o juízo Os 4.11.
Quando
lemos a expressão “subir para o coração”
significa que o pensamento veio à ideia, à mente Is. 65.17, pois é no lebad que moram os pensamentos Jz. 5.15s. Ao lermos
que Sansão abriu seu coração a Dalila, percebemos que ele não o fez no sentido
carnal, de amor, mas que o mesmo confiou, entregou, compartilhou o seu mais
íntimo segredo. Assim o coração simboliza o Eu do homem, seu esconderijo, sua
personalidade. 1 Cor 14.25- 1 Pd 3.4.
O
que determinamos como traços de caráter nos dias atuais, o Talmud representa
pelo símbolo do coração. Dessa forma, expressões como: “bom coração”, “mau coração” assume uma conotação ética. Com efeito,
podemos observar a frase: echad bape
veacher balev, a saber: uma coisa na
boca e outra no coração, expressando a falsidade e hipocrisia de uma
pessoa.
Ainda
como curiosidade vale observar que nele reside toda solicitude e
causa científica. Dele emergem duas artérias, das quais a esquerda bombeia mais
sangue que a direita. Dessa forma, a artéria direita é tida por conter mais
espírito, sendo este o motivo de aferirmos o pulso no braço direito.
Concluindo...
Coração:
o filtro da alma
“...se tu olhares Senhor
para dentro de mim. Nada encontrarás de bom...Dá-me um coração igual ao teu,
meu mestre...dá-me um novo Coração!...”.
Nos
dias atuais com tantos conhecimentos filosóficos, científicos e teológicos,
creio que devamos repensar a função do coração em nossas vidas. É obvio que
temos o conhecimento que a racionalidade se dá no cérebro, mas de onde emerge
nossa fé?! Sim, porque a fé não é racional!
Estava
eu escutando a música acima, quando tal questão veio à tona. E então me pus a
pensar no “homem segundo o coração de
Deus” e no excerto de 1 Samuel 16, quando o profeta Samuel mesmo sendo homem
honrado deixou-se levar pela aparência de Eliav, por ser este de belo porte. E
como resposta levou uma repreensão de Yahweh:
“...pois o homem ayn
para os olhos e Yahweh ayn para o
coração.” Ou seja, Deus não olha o basar,
nosso corpo, pois ele vê além, ele conhece nossa nefesh, alma. E nesse meditar observei que a questão cérebro x coração encontra-se no mesmo
âmbito do corpo x espírito.
Em
tempos que as palavras, informações e comunicação estão cada vez mais dinâmicas
e rápidas, muitas vezes agimos impulsivamente, simplesmente na racionalidade,
mas não usamos uma ferramenta muito antiga, que os povos mais arcaicos
conheciam tão bem e usavam sublimemente: o coração. É nele que a Ruah de Yahweh é derramada, ou seja, seu espírito. Rm. 5.5 – 2 Cor. 1.22 –
Gl. 4.6 e é nele também que Cristo mora e opera não pela razão, mas pela fé.
Por
algumas vezes em minha vida agi impulsivamente, embora racionalmente. E me esqueci
de passar toda situação vivida pelo filtro do coração e então minhas palavras,
ou seja, minha racionalidade magoou muita gente e também feriu a mim mesma.
Cheguei a ouvir em determinada situação a seguinte afirmação: “Você sabe usar muito bem as palavras e você
com elas é capaz de destruir a vida de uma pessoa!” Nunca mais esqueci a
pessoa que me falou e tampouco a frase por ela dita.
Eu agi
com o corpo, com o cérebro, mas não com meu espírito.
E minhas palavras que deviam edificar pessoas, estavam destruindo alguém. A
partir desse episódio, passei a usar meu coração como um filtro. Antes de
falar, escrever, aconselhar... Paro, medito e então filtro no meu lebad a questão, me fazendo a seguinte
pergunta: Como Jesus agiria nessa situação?
Sim,
porque muitas vezes tentamos ignorar situações, não responder quando somos
afrontados, perseguidos, achando que o fingir não se importar é a melhor saída.
Mas este nunca seria um posicionamento da parte de Cristo.
Sempre
que Jesus foi posto à prova ele assumiu primeiramente o posicionamento do
silêncio, para quebrar a raiva, o rancor e, logo em seguida ele respondia com
seu espírito, filtrando com seu lebad. E depois que a resposta era dada,
o seu coração voltava à mansidão, à calma, à plenitude.
Obviamente
não possuímos a santidade de Jesus e assim sendo, voltar à mansidão, não
constitui tarefa das mais fáceis. Filtrar no coração é um exercício diário que
devemos praticar e que deve fazer parte da nossa consciência de fé. Usar o
coração para analisar as situações que a vida nos impõe é lutar contra as
coisas da carne, que são tão próprias do homem. Despertando dessa forma cada
vez mais nossa fé.
Usar o
coração como filtro é também viver pelo Espírito
Santo de Yahweh.
Bibliografia
J.
L. Goff; N. Truong, História do corpo na
Idade Média, Ed. Record. Rio de Janeiro, 2003.
L.
C. Uchôa. Corpo e mente: uma fronteira
móvel. Casa do psicólogo. Sociedade Brasileira de Psicanálise. São Paulo.
H.
Lexikon. Dicionário dos Símbolos,
Cultrix, São Paulo. 1990.
J.
B. Bauer. Dicionário Bíblico-teológico.
Loyola, São Paulo, 2000.
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