sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Coração: filtro da Alma - Parte Final



O Coração e a Bíblia

Discussões filosóficas ou científicas a parte é no sentido metafórico do coração que quero me ater, em sua visão cardiocêntrica[1]. Não podemos desprezar toda bagagem da antiguidade na tentativa de compreender o homem e as coisas sagradas.

A Bíblia está repleta de passagens que apontam o lebad como centro dos sentimentos, sabedoria, pensamentos, vontade, paixões, etc. Para os judeus o coração é o órgão capaz de entrar em contato com Deus, pois Yahweh fala ao lebad do homem.

Vejamos algumas atribuições do coração: 


Funções e designações do  Lebad

Versículos correspondentes

Sede dos sentimentos, da coragem

2Cr. 17.6

Tomar um coração é tomar coragem

2Sm 7. 27

A alegria reside no coração

Dt.28. 47 – Jz 19.9 – Zc 10.7 – Sl 45.2.

Responsável pelo sofrimento e aflição

Jr 4.19 – Is 65.14.

Fonte de soberba

Jr 49.16 – 48.29

Simpatia

2sm 15.13 – Esd 6.22 – Ml 3.24

Preocupação

1 Sm 9.20; 25.25

Compaixão

Os 11.8

Irritação

Dt19.6 –  Pr 23.17

Resignação

Pr 14.30

Cobiça

Sl 21.3
 

E estas são apenas algumas aplicações que a bíblia dá ao coração. Ou seja, tanto no AT como no NT tudo reside no coração. Um homem de coração é um homem sensato, prudente; o tolo foi aquele cujo coração falhou; o vinho faz o homem perder o coração, ou melhor, o juízo Os 4.11.

Quando lemos a expressão “subir para o coração” significa que o pensamento veio à ideia, à mente Is. 65.17, pois é no lebad  que moram os pensamentos Jz. 5.15s. Ao lermos que Sansão abriu seu coração a Dalila, percebemos que ele não o fez no sentido carnal, de amor, mas que o mesmo confiou, entregou, compartilhou o seu mais íntimo segredo. Assim o coração simboliza o Eu do homem, seu esconderijo, sua personalidade. 1 Cor 14.25- 1 Pd 3.4. 

O que determinamos como traços de caráter nos dias atuais, o Talmud representa pelo símbolo do coração. Dessa forma, expressões como: “bom coração”, “mau coração” assume uma conotação ética. Com efeito, podemos observar a frase: echad bape veacher balev, a saber: uma coisa na boca e outra no coração, expressando a falsidade e hipocrisia de uma pessoa.

Ainda como curiosidade vale observar que nele reside toda solicitude e causa científica. Dele emergem duas artérias, das quais a esquerda bombeia mais sangue que a direita. Dessa forma, a artéria direita é tida por conter mais espírito, sendo este o motivo de aferirmos o pulso no braço direito.
 

Concluindo...

Coração: o filtro da alma

“...se tu olhares Senhor para dentro de mim. Nada encontrarás de bom...Dá-me um coração igual ao teu, meu mestre...dá-me um novo Coração!...”.

Nos dias atuais com tantos conhecimentos filosóficos, científicos e teológicos, creio que devamos repensar a função do coração em nossas vidas. É obvio que temos o conhecimento que a racionalidade se dá no cérebro, mas de onde emerge nossa fé?! Sim, porque a fé não é racional!

Estava eu escutando a música acima, quando tal questão veio à tona. E então me pus a pensar no “homem segundo o coração de Deus” e no excerto de 1 Samuel 16, quando o profeta Samuel mesmo sendo homem honrado deixou-se levar pela aparência de Eliav, por ser este de belo porte. E como resposta levou uma repreensão de Yahweh: “...pois o homem ayn para os olhos e Yahweh ayn para o coração.” Ou seja, Deus não olha o basar, nosso corpo, pois ele vê além, ele conhece nossa nefesh, alma. E nesse meditar observei que a questão cérebro x coração encontra-se no mesmo âmbito do corpo x espírito 

Em tempos que as palavras, informações e comunicação estão cada vez mais dinâmicas e rápidas, muitas vezes agimos impulsivamente, simplesmente na racionalidade, mas não usamos uma ferramenta muito antiga, que os povos mais arcaicos conheciam tão bem e usavam sublimemente: o coração. É nele que a Ruah de Yahweh é derramada, ou seja, seu espírito. Rm. 5.5 – 2 Cor. 1.22 – Gl. 4.6 e é nele também que Cristo mora e opera não pela razão, mas pela fé.

Por algumas vezes em minha vida agi impulsivamente, embora racionalmente. E me esqueci de passar toda situação vivida pelo filtro do coração e então minhas palavras, ou seja, minha racionalidade magoou muita gente e também feriu a mim mesma. Cheguei a ouvir em determinada situação a seguinte afirmação: “Você sabe usar muito bem as palavras e você com elas é capaz de destruir a vida de uma pessoa!” Nunca mais esqueci a pessoa que me falou e tampouco a frase por ela dita.

Eu agi com o corpo, com o cérebro, mas não com meu espírito. E minhas palavras que deviam edificar pessoas, estavam destruindo alguém. A partir desse episódio, passei a usar meu coração como um filtro. Antes de falar, escrever, aconselhar... Paro, medito e então filtro no meu lebad a questão, me fazendo a seguinte pergunta: Como Jesus agiria nessa situação?

Sim, porque muitas vezes tentamos ignorar situações, não responder quando somos afrontados, perseguidos, achando que o fingir não se importar é a melhor saída. Mas este nunca seria um posicionamento da parte de Cristo. 

Sempre que Jesus foi posto à prova ele assumiu primeiramente o posicionamento do silêncio, para quebrar a raiva, o rancor e, logo em seguida ele respondia com seu espírito, filtrando com seu lebad. E depois que a resposta era dada, o seu coração voltava à mansidão, à calma, à plenitude.

Obviamente não possuímos a santidade de Jesus e assim sendo, voltar à mansidão, não constitui tarefa das mais fáceis. Filtrar no coração é um exercício diário que devemos praticar e que deve fazer parte da nossa consciência de fé. Usar o coração para analisar as situações que a vida nos impõe é lutar contra as coisas da carne, que são tão próprias do homem. Despertando dessa forma cada vez mais nossa fé.

Usar o coração como filtro é também viver pelo Espírito Santo de Yahweh.





Bibliografia

J. L. Goff; N. Truong, História do corpo na Idade Média, Ed. Record. Rio de Janeiro, 2003.

L. C. Uchôa. Corpo e mente: uma fronteira móvel. Casa do psicólogo. Sociedade Brasileira de Psicanálise. São Paulo.

H. Lexikon. Dicionário dos Símbolos, Cultrix, São Paulo. 1990.

J. B. Bauer. Dicionário Bíblico-teológico. Loyola, São Paulo, 2000.

























[1] Visão do coração como centro do homem

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