quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Luto nosso de cada dia – parte II





 

Morte, Sepultamento e Luto

"Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados..."

Mateus 5:4



A morte no Antigo Testamento era vista de duas formas: de forma natural ou como maldição.
Se esta se dava ao final da vida era tida como natural, pois o individuo teve vida longa e frutífera. Dessa forma, seu enterro era feito por sua família com todas as honrarias devidas. Entretanto, se a morte de dava muito cedo em determinada pessoa, ou se a pessoa não possuía filhos sobreviventes, então isso era visto como uma maldição.
Já no Novo Testamento, a partir do ministério de Jesus Cristo, a morte passa a ter outra conotação. Mas, tal aspecto, veremos mais adiante.
 
Sabemos que na Palestina o clima é muito quente e assim sendo, o enterro devia ser feito de forma muito rápida. Dessa forma, fechavam-se os olhos do morto, lavavam seu corpo e o envolviam em tiras de pano. E então o corpo era levado numa espécie de maca de madeira até o local do enterro. Não se usava caixão.
Geralmente esse local era uma caverna e funcionava mais ou menos como nossos jazigos atuais. Quando a caverna tinha de abrigar um número grande de familiares, ampliava-se então o espaço com prateleiras esculpidas nas rochas.
No NT muitas vezes uma pedra era usada para cobrir a entrada das cavernas sepulcrais, como no caso de Jesus.
Com o passar do tempo o número de cavernas tornou-se limitado para quantidade de mortos, então após o período de um ano os ossos eram retirados e transferidos para os ossuários, feitos em madeira ou pedra.

Assim como em nossos dias, os ricos tinham mais “honrarias” na hora do enterro e suas cavernas eram personalizadas com escadarias descendo até a rocha e uma laje de pedra era colocada em sua entrada. Já os menos desprovidos, como nossos indigentes, eram enterrados em covas rasas em chão aberto. O corpo então era enfileirado por pedras que contornavam o morto e uma laje de pedra era posta em cima e pintada de branco para “alertar” os vivos a não entrarem em contato com o morto. Caso contrário, tornavam-se impuros.

No ato do enterro começava uma grande exibição de dor em prol do morto, assim familiares de amigos choravam, gemiam, vestiam roupas desconfortáveis, rasgavam suas vestes, retiravam a barba, caminhavam descalços e cobriam-se de cinzas. Dependendo da situação financeira do defunto, carpideiras eram contratadas a fim de fazer maior lamentação. O texto de eclesiástico é bem propício para entendermos como era um funeral:
 

[Filho, derrama tuas lágrimas por um morto, entoa um lamento fúnebre para mostrar a tua dor, depois enterra o cadáver segundo o cerimonial e não deixes de honrar a sua sepultura.

Chora amargamente, bate no peito, observa o luto segundo merece o morto, um ou dois dias...depois consola-te de tua tristeza...]

 

O período do luto como observamos no texto como mensagem geralmente era de sete dias, mas dependendo da importância da pessoa este prazo poderia ser diferente. O de José do Egito, por exemplo, foi de 70 dias.
Juntamente com o luto dava-se um período de jejum que começava após uma festa fúnebre que era realizada junto ao túmulo.

 
O Sheol

 

Porque na morte não há lembrança de ti; no sepulcro quem te louvará?

Salmos 6:5

 

A primeira coisa que devemos entender é que a morte no Antigo Testamento é diferente da morte para o povo no Novo testamento e consequentemente para nós cristãos como já mencionei.
Para o povo de Israel no AT o morto só tinha um destino, indiferente se o individuo foi bom ou ruim, temente ou não a Yahweh, o fim era um só: o Sheol.
O Sheol no Antigo Testamento era um lugar no fundo da terra que a todos acolhia. Estando muito longe da habitação dos vivos e de impossível retorno à vida (cf. Pr.2.19).
Era visto como a casa da eternidade, um local de silêncio, esquecimento e aniquilação (Sl. 88.12). Um lugar de total escuridão, de onde não se é mais possível louvar a Yahweh, pois é somente na vida que o homem pode ter um encontro com Deus.
É somente depois do exílio babilônico que iremos encontrar algumas mudanças sobre as crenças judaicas em torno da morte. No livro de Daniel temos um indício da crença na ressurreição do corpo. Mas mesmo no NT teremos grupos que defendem a ressurreição – fariseus, e grupos que não acreditam como os saduceus.

Assim como nos dias atuais, também existiam no AT grupos que procuravam contato com o além-vida, pois alguns dos antigos israelitas criam que os mortos continuavam a desempenhar um papel ativo no mundo dos vivos, praticando para isso a necromancia, ou seja, a comunicação com os mortos através de um medium. Pratica esta condenada por Yahweh e pelos profetas.

Como podemos perceber, há muito mais semelhanças com nossos tempos do que diferenças. Hoje, existem os que acreditam na ressurreição e os que não acreditam. E ainda aqueles que procuram se comunicar com os mortos mesmo isso sendo condenado nitidamente tanto no AT como no NT.

No texto de 2 Samuel 12, Davi não possui a concepção da ressurreição. Para ele o filho de seu pecado irá para o Sheol. Ou seja, estará no não-lugar. Não há como encontrar-se com ele a não ser morto. Davi deixa isso bem claro quando diz aos seus servos: “...Novamente eu irei para ele, mas ele não voltará para mim”.
E mesmo assim, mesmo sendo o Sheol para Davi o local de aniquilação total do ser, ele nos deixa uma preciosa lição de fé e confiança nos desígnios de Deus. Davi simplesmente aceitou com resignação a decisão de Yahweh.

Ora, se Davi agiu segundo a vontade de Deus, mesmo sem ter garantia alguma, porque nós que temos a certeza de que a morte não é o fim nos desesperamos tanto?

 
Continua...
 

 

 

 

 

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