Morte,
Sepultamento e Luto
"Bem-aventurados
os que choram, porque eles serão consolados..."
Mateus 5:4
A
morte no Antigo Testamento era vista de duas formas: de forma natural ou como
maldição.
Se
esta se dava ao final da vida era tida como natural, pois o individuo teve vida
longa e frutífera. Dessa forma, seu enterro era feito por sua família com todas
as honrarias devidas. Entretanto, se a morte de dava muito cedo em determinada
pessoa, ou se a pessoa não possuía filhos sobreviventes, então isso era visto
como uma maldição.
Já
no Novo Testamento, a partir do ministério de Jesus Cristo, a morte passa a ter
outra conotação. Mas, tal aspecto, veremos mais adiante.
Sabemos
que na Palestina o clima é muito quente e assim sendo, o enterro devia ser
feito de forma muito rápida. Dessa forma, fechavam-se os olhos do morto,
lavavam seu corpo e o envolviam em tiras de pano. E então o corpo era levado
numa espécie de maca de madeira até o local do enterro. Não se usava caixão.
Geralmente
esse local era uma caverna e funcionava mais ou menos como nossos jazigos
atuais. Quando a caverna tinha de abrigar um número grande de familiares,
ampliava-se então o espaço com prateleiras esculpidas nas rochas.
No
NT muitas vezes uma pedra era usada para cobrir a entrada das cavernas
sepulcrais, como no caso de Jesus.
Com
o passar do tempo o número de cavernas tornou-se limitado para quantidade de
mortos, então após o período de um ano os ossos eram retirados e transferidos
para os ossuários, feitos em madeira ou pedra.
Assim
como em nossos dias, os ricos tinham mais “honrarias” na hora do enterro e suas
cavernas eram personalizadas com escadarias descendo até a rocha e uma laje de
pedra era colocada em sua entrada. Já os menos desprovidos, como nossos
indigentes, eram enterrados em covas rasas em chão aberto. O corpo então era
enfileirado por pedras que contornavam o morto e uma laje de pedra era posta em
cima e pintada de branco para “alertar” os vivos a não entrarem em contato com
o morto. Caso contrário, tornavam-se impuros.
No
ato do enterro começava uma grande exibição de dor em prol do morto, assim
familiares de amigos choravam, gemiam, vestiam roupas desconfortáveis, rasgavam
suas vestes, retiravam a barba, caminhavam descalços e cobriam-se de cinzas.
Dependendo da situação financeira do defunto, carpideiras eram contratadas a
fim de fazer maior lamentação. O texto de eclesiástico é bem propício para
entendermos como era um funeral:
[Filho, derrama tuas lágrimas por
um morto, entoa um lamento fúnebre para mostrar a tua dor, depois enterra o
cadáver segundo o cerimonial e não deixes de honrar a sua sepultura.
Chora amargamente, bate no peito,
observa o luto segundo merece o morto, um ou dois dias...depois consola-te de
tua tristeza...]
O
período do luto como observamos no texto como mensagem geralmente era de sete
dias, mas dependendo da importância da pessoa este prazo poderia ser diferente.
O de José do Egito, por exemplo, foi de 70 dias.
Juntamente
com o luto dava-se um período de jejum que começava após uma festa fúnebre que
era realizada junto ao túmulo.
O Sheol
Porque
na morte não há lembrança de ti; no sepulcro quem te louvará?
Salmos
6:5
A
primeira coisa que devemos entender é que a morte no Antigo Testamento é
diferente da morte para o povo no Novo testamento e consequentemente para nós
cristãos como já mencionei.
Para
o povo de Israel no AT o morto só tinha um destino, indiferente se o individuo
foi bom ou ruim, temente ou não a Yahweh, o fim era um só: o Sheol.
O
Sheol no Antigo Testamento era um lugar no fundo da terra que a todos acolhia.
Estando muito longe da habitação dos vivos e de impossível retorno à vida (cf.
Pr.2.19).
Era
visto como a casa da eternidade, um local de silêncio, esquecimento e
aniquilação (Sl. 88.12). Um lugar de total escuridão, de onde não se é mais possível
louvar a Yahweh, pois é somente na vida que o homem pode ter um encontro com
Deus.
É
somente depois do exílio babilônico que iremos encontrar algumas mudanças sobre
as crenças judaicas em torno da morte. No livro de Daniel temos um indício da
crença na ressurreição do corpo. Mas mesmo no NT teremos grupos que defendem a
ressurreição – fariseus, e grupos que não acreditam como os saduceus.
Assim
como nos dias atuais, também existiam no AT grupos que procuravam contato com o
além-vida, pois alguns dos antigos israelitas criam que os mortos continuavam a
desempenhar um papel ativo no mundo dos vivos, praticando para isso a
necromancia, ou seja, a comunicação com os mortos através de um medium. Pratica
esta condenada por Yahweh e pelos profetas.
Como
podemos perceber, há muito mais semelhanças com nossos tempos do que
diferenças. Hoje, existem os que acreditam na ressurreição e os que não
acreditam. E ainda aqueles que procuram se comunicar com os mortos mesmo isso
sendo condenado nitidamente tanto no AT como no NT.
No
texto de 2 Samuel 12, Davi não possui a concepção da ressurreição. Para ele o
filho de seu pecado irá para o Sheol. Ou seja, estará no não-lugar. Não há como
encontrar-se com ele a não ser morto. Davi deixa isso bem claro quando diz aos
seus servos: “...Novamente eu irei
para ele, mas ele não voltará para mim”.
E
mesmo assim, mesmo sendo o Sheol para Davi o local de aniquilação total do ser,
ele nos deixa uma preciosa lição de fé e confiança nos desígnios de Deus. Davi
simplesmente aceitou com resignação a decisão de Yahweh.
Ora,
se Davi agiu segundo a vontade de Deus, mesmo sem ter garantia alguma, porque
nós que temos a certeza de que a morte não é o fim nos desesperamos tanto?
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