E aconteceu
virem eles, e ele viu a Eliav. E disse: certamente na presença de Yahweh será meshiah! E disse
Yahweh para Samuel: não olharás para a aparência dele e para elevada altura
porque o recusei. Pois que ele não verá como o ser humano, pois, o ser humano
verá para os olhos e Yahweh verá para o coração.
...E Jessé
fez passar seus sete filhos diante de Samuel e disse Samuel para Jessé: Yahweh
não escolheu nestes. 1 Samuel
16:6-10
O coração na
antiguidade
O
coração sempre foi um órgão que desde tempos mais remotos despertou muita
fascinação. Este único significante assumiu no decorrer dos tempos diversos
significados. Indo desde centro de toda motivação humana até apenas mais um
órgão do corpo com função biomecânica.
Os
antigos egípcios criam que o coração (kardia[1])
era o centro do homem. Responsável tanto pelas dimensões orgânicas como
espirituais, sendo assim o provedor da moralidade do indivíduo. Era nele que se
desenvolvia o bem ou do mal em cada ser humano.
E
tal era sua importância que nos rituais de mumificação era o único órgão
preservado e oferecido juntamente com um escaravelho ao deus da mumificação Anubis, para que o mesmo fizesse o
julgamento do individuo através do peso de seu coração. Dessa forma se o órgão
pesasse mais que a “pena da verdade”[2]
a alma era destruída para todo sempre, caso contrário, ou seja, se fosse mais
leve, Anubis guiaria a pessoa para o
além e o individuo teria acesso ao paraíso.
Na
Índia o coração é visto como o lugar de contato com Brahma, ou seja, passa
a ser o elo com a personificação do absoluto. Já na Antiga Grécia
primordialmente representava a sede do pensamento, da ação do homem e
posteriormente assumiu um significado mais intenso e espiritual. No Islamismo
temos o coração como o lugar da contemplação da espiritualidade.
Com
o povo de Israel não se deu diferente. Para tais, o lebad (coração) era o centro tanto da vida material quanto
espiritual, sendo responsável ao mesmo tempo, pela moral, sentimentos humanos e
função vital.
A Filosofia e o Coração
A
partir de Platão o significante Kardia começa
a assumir novos significados. O pai da metafísica foi o responsável pela
divisão do coração entre dois polos, ou melhor, mundos: o da aparência
(material, palpável) e o das ideias (essência, espiritual, intelectual).
Para
Platão o coração perde lugar para o cérebro que assume o local maior da
racionalidade. E essa nova perspectiva faz uma ruptura com os padrões anteriomente
estabelecidos. Entretanto, tal órgão ainda não é visto do ponto de vista
biomecânico. Antes, é o responsável por tudo aquilo que o homem deve desprezar
(paixões, emoções).
Temos
que entender que nesse momento do “platonismo” o mundo induz o homem ao erro,
pois o seduz, o excita.
A
visão do coração como órgão vital viria somente tempos depois através de
Aristóteles. É ele que o configura como centro emocional responsável pelas
percepções. Para Aristóteles a alma que é responsável pelo intelecto.
A
partir desses dois filósofos as discussões passam a ser um embate coração x
cérebro como o centro do homem. Assim a disputa filosofia x tradição religiosa
cede lugar até ao início da modernidade por uma disputa filosofia versus ciência.
Somente
no século XVII, através do médico William Harvey, o coração tem sua função
vital comprovada como o responsável pela
circulação do sangue. Sendo de suma importância no processo fisiológico do
homem, mas não nas questões emocionais, sentimentais ou racionais.
Continua...
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