Espiritismo moderno: visão à luz da Bíblia - Parte I

Por se tratar de assunto extenso dividiremos este estudo em duas partes e ainda assim muito mais teríamos a falar a respeito do tema.

As muitas moradas

                                       Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.

                             Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito.

                             Vou preparar-vos lugar.

E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim

mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.

Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho.

Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos  

saber o caminho?

Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai,

senão por mim.

Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde   

agora o conheceis, e o tendes visto.

Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta.

Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido,

Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?

Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu

vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz

as obras.

Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa 

das mesmas obras.

Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as

obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.

E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado

no Filho.

Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardai os

meus mandamentos.

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique sempre

convosco; O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o

vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em

vós.

Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.

Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu

vivo, e vós vivereis.

Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.

João 14: 1-20.

Dentre os versículos da Bíblia tomados de empréstimo por Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardeck) para fundamentar o “espiritismo” foi no capítulo 14, versículo 2 do livro de João, que Allan Kardeck achou ter encontrado a explicação para sua crença[1].

Tal religião interpreta de forma isolada o referido versículo e acredita estar o mesmo referindo-se a muitos planetas (moradas) para os vários espíritos de luz[2] a fim de que os mesmos encontrem a “evolução”.

Mas como todo o texto faz parte de um contexto maior, tal argumento desmorona se lermos atentamente todo capítulo 14 de João.

Nele, Jesus explica aos discípulos que na casa de Deus (céus) há muitas moradas (espaço físico), capazes de comportar todos aqueles que acreditarem no cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jesus).

Não haveria dúvidas para os que seguem tal religião se abrissem a Bíblia e lessem atentamente o versículo 6: [Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.]. E diz mais no versículo 17: [ O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.]

Aqui Jesus refere-se ao próprio Espírito Santo de Deus, o qual nos daria como consolador após sua ressurreição.

O problema é que espiritismo prega que a bíblia é um livro de caráter histórico, que utiliza alegorias e por tal motivo é muito difícil de ser entendido pelos homens que não estudam a fundo e que não são mediuns. Tal ciência, sim porque eles não se dizem uma religião, tenta adulterar a bíblia como um livro que contém os ensinamentos de Deus para os homens. Mas se algumas passagens nos são ditas de forma alegórica é exatamente para tornar mais fácil seu entendimento.

O Ser Criador e os espíritos-guia

Para os espíritas, Deus existe, mas está muito longe, quase inatingível, o que na fenomenologia dos textos sagrados chama-se de dei otiosi, ou seja, Deus criou o Céu e a Terra, mas, possui outras atribuições. Dessa forma, ele delega funções, e por tal motivo, creem eles, que o mesmo se manifesta por intermediários, os quais são chamados “espíritos-guia[3]”.

Vejamos o que a Bíblia fala a respeito desses espíritos-guia:

“Não recorram aos médiuns, nem busquem a quem consulta espíritos, pois vocês serão contaminados por eles. Eu sou o SENHOR, o Deus de vocês. (Lv. 19.31)

 Voltarei o meu rosto contra quem consulta espíritos e contra quem procurar médiuns para segui-los, prostituindo-se com eles. Eu o eliminarei do meio do seu povo.( Lv. 20.6)

Quando disserem a vocês: "Procurem um médium ou alguém que consulte os espíritos e murmure encantamentos, pois todos recorrem a seus deuses e aos mortos em favor dos vivos", respondam: “À lei e aos mandamentos!” Se eles não falarem conforme esta palavra, vocês jamais verão a luz! (Is. 8: 19-20)

O Espírito Santo diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios.(1 Tm 4.1)

Mas ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! (Gl. 1.8)

Isto não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. ( 2 Co. 11.14)

O espiritismo utiliza-se da dor alheia para se fundamentar, uma vez, que pessoas que não possuem um contato direto com os ensinamentos de Cristo são ludibriadas e levadas a crer que podem entrar em contato com entes queridos mortos.

O homem não foi feito para morrer, isso foi consequência do nosso pecado, pelo engano da serpente no jardim do Éden e por tal motivo estamos despreparados para lidar com a morte. E uma vez consternados pela perda do familiar ficamos mais vulneráveis às investidas de Satanás.

A consulta aos mortos (como assim dizem os espíritas) é extremamente proibida na Bíblia:

Não permitam que se ache alguém entre vocês que queime em sacrifício o seu filho ou a sua filha; que pratique adivinhação, ou se dedique à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium, consulte os espíritos ou consulte os mortos.

O SENHOR tem repugnância por quem pratica essas coisas, e é por causa dessas abominações que o SENHOR, o seu Deus, vai expulsar aquelas nações da presença de vocês. (Dt. 18. 10-12)

Ao contrário do que anunciam os mortos não têm o poder de saber o que acontece na terra:

Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles não haverá mais recompensa, e já não se tem lembrança deles. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que acontece debaixo do sol. (Ec. 9.5-6)

Quando morremos ficamos como que adormecidos para Terra. É isso que o versículo acima quer dizer. Pois, nosso Deus é amoroso e não quer o sofrimento da separação para aquele que se foi. Assim, eles ficam sem saber o que se passa aqui na terra, não podem ver o nosso sofrimento pela partida deles, caso contrário também sofreriam muito. O Céu é atemporal e eles não possuem a noção exata de quanto tempo estão lá.

Eles permanecerão dessa forma, até que se cumpra o plano de Deus e Jesus volte a terra para acabar com toda maldade e iniquidade. Num novo mundo sem maldade, assim como foi no principio lá no Édem.

Mortos guiando vivos ou vivos andando como mortos?

Outra questão a ser entendida é que os mortos não podem ajudar aos vivos:

Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e vivia no luxo

todos os dias.

Diante do seu portão fora deixado um mendigo chamado Lázaro, coberto de

chagas; este ansiava comer o que caía da mesa do rico. Até os cães vinham lamber

suas feridas.

 “Chegou o dia em que o mendigo morreu, e os anjos o levaram para junto de Abraão. O rico também morreu e foi sepultado. No Hades, onde estava sendo atormentado, ele olhou para cima e viu Abraão de longe, com Lázaro ao seu lado.  Então, chamou-o: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e manda que Lázaro molhe a ponta do dedo na água e refresque a minha língua, porque estou sofrendo muito neste fogo’. “Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você está em sofrimento. E além disso, entre vocês e nós há um grande abismo, de forma que os que desejam passar do nosso lado para o seu, ou do seu lado para o nosso, não conseguem’. “Ele respondeu: ‘Então eu te suplico, pai: manda Lázaro ir à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos. Deixa que ele os avise, a fim de que eles não venham também para este lugar de tormento’.“Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os Profetas; que os ouçam’. “ ‘Não, pai Abraão’, disse ele, ‘mas se alguém dentre os mortos fosse até eles, eles se arrependeriam.’ “Abraão respondeu: ‘Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos”.

Com relação ao fato de Deus estar inatingível, mais uma vez vê-se cair por terra tal argumento uma vez que Deus manifestou-se em Horebe através de uma sarça ardente a Moisés. Falou com Samuel; repreendeu Davi... E tomando por base o excerto primeiro deste ensaio, vislumbra-se no versículo 16 o próprio Deus encarnado falando ainda que deixaria conosco o Consolador, dizendo mais, que ele, Jesus, (filho de Deus) viria nos buscar, a fim de vivermos junto dele.

Reencarnação

Ao contrário do que apregoa o espiritismo, Deus não é inalcançável, nem muito menos somos nós deuses-homens estando o próprio Deus dentro de nós, como algumas correntes espíritas ensinam.

A Bíblia nos afirma que viveremos com Cristo, ou seja, com Deus e informa-nos que morreremos apenas uma vez, tornando-se assim a reencarnação um grande logro.

                       

                                   De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do

mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para

aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.

E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o

juízo, Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de

muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação.

Hebreus 9:26-29.

Cabe-nos aqui entendermos o que vem a ser aos olhos espíritas a reencarnação e com pertinência apontar o que a Bíblia nos diz.

Tal religião crê no retorno do espírito à vida terrena, seja para purificar as ações da vida anterior ou para cumprir uma missão especial. Uma vez que para tais o inferno não existe, o que há é um lugar de tormento no qual a alma pode ainda ter uma chance de expurgar mediante a reencarnação, as coisas erradas que fez anteriormente, ou este ato se dá na própria terra.

A quantidade de reencarnações pode variar, irá depender de expurgar todos os pecados do ser.

Algumas pessoas podem ser “tão evoluídas” a ponto de não ser necessário às mesmas reencarnar, mas ir se aperfeiçoar em outro plano. A questão é: Nem os próprios espíritas sabem para onde vão!

Vejamos o que Jesus anuncia:

E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo. (Hb 9.27).

Nós nunca alcançaremos a plenitude de Deus, mesmo que fosse possível reencarnar dezenas de vezes. Jesus quer que venhamos da forma que estivermos, e ele nos moldará.

Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes.

Não vim chamar os justos, e sim pecadores ao  arrependimento. (Lucas 5:31-32)

O espiritismo adultera a Bíblia ao seu bel-prazer e vai contra o que Jesus ensinou. E nesse espírito adulterador afirma que João Batista é a reencarnação de Elias (Ml 4.5 e Mt 17.10-13).  

Elias não poderia ter reencarnado porque não morreu, mas foi arrebatado (II Rs 2.11).   Se João Batista fosse a reencarnação de Elias, aquele que teria aparecido no monte da transfiguração, deveria ser João Batista e não Elias (Mt 17.1-3). Pois de acordo com a doutrina espírita: a última pessoa reencarnada é que deve aparecer.  E por fim, João Batista disse claramente que não era Elias (Jo 1.21).  

As tipologias dos espíritos

Para essa “crença-ciência” há quatro categorias de espíritos: imperfeitos, bons, superiores e puros. Cabendo a cada um a caminhada para alcançar a perfeição.

A fim de justificar sua doutrina eles apontam o capítulo 3 versículo 3 de João:

Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". (Jo. 3.3)

Qualquer estudante de literatura sabe que um texto não pode ser isolado de seu contexto pois isso representa um erro primário, então vejamos com mais pertinecia do que trata tal passagem Bíblica.

Ao analisarmos melhor, do versículo 1 ao 21, veremos que a passagem refere-se ao encontro de Jesus com Nicodemos e este indaga a Jesus como fazer para ser salvo. Quando Jesus fala para Nicodemos o versículo 3, o mesmo também não entende e pergunta como é possível ao homem nascer de novo.

E aí vem a explicação bem clara de Jesus:

Respondeu Jesus: “digo-lhe a verdade: Ninguém   pode entrar no reino de Deus, se não nascer de novo”

Jesus está claramente referido-se ao “Batismo”, não o bastismo com água feito na igreja, mas a aceitação verdadeira de que Jesus é Deus. O texto está dizendo que necessitamos perceber em nossos corações que fora de Cristo não há salvação. O que Jesus diz à Nicodemos é que todo e qualquer ser humano que deseje estar com Deus necessita declarar-se pecador e pedir perdão pelos atos ilícitos, procurando não cometer os erros de antes.

Acreditar em reencarnação é desacreditar no sacrifício de Jesus na cruz do Calvário, pois se o próprio homem pode conseguir a perfeição, porque Deus daria seu único filho a morrer em nosso lugar?

A Bíblia tem a resposta clara do que acontece quando morremos:

                        E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu. (Eclesiastes 12:7)

Não há um terceiro fato, ou um complemento da frase dizendo que posteriormente o espírito voltará a terra.

A vida não é mérito nosso, mas dom gratuito de Deus. Não temos merecimento de nada e, portanto, a salvação se dá através da misericórdia de Jesus e não através de nossos atos.

Fazer caridade é uma obrigação nossa, pois devemos amar nosso próximo como a nós mesmo, mas isso não nos garante um pedacinho do céu.

Continua...

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[1] O mesmo achava ser a reencarnação do poeta Celta (Allan Kardeck).

[2] Nome dado ao que a Bíblia chama de espírito familiar. Is.29:4.

[3] Vide item 2.