Resumos e perspectivas em 1 Samuel 16
Em nossa pesquisa fizemos a delimitação do texto de (1 Sm
16) em unidades de sentido. Trabalhamos as
questões pertinentes à desconstrução de Saul enquanto líder emergente da
monarquia consoante à construção do real monarca Davi.
Entendemos que para a derrocada de Saul enquanto líder se
fez necessário desacreditá-lo perante o povo enaltecendo Davi. Atribuindo a
Saul um espírito de deuses mau.
A nosso ver, mediante a exegese do texto, Saul poucos
erros cometeu. O declínio de sua atuação monárquica, fora fruto, ao que tudo
indica, de problemas políticos e não de sua intimidade com Yahweh.
Durante nossa
caminhada surgiram mais indagações do que respostas. Ingenuidade nossa é pensar
“descobrir” alguma coisa; pois um pesquisador é movido pelas dúvidas e não
pelas certezas que o cercam, pois o que é certo verdadeiramente, a não ser o
fato de que Cristo morreu por nós?
Ao pesquisarmos o
lamento fúnebre para abordar a questão que aos olhos de Yahweh Saul estava morto, observamos que o ato de lamento dava-se
em meio a gritos agudos e repetitivos, ao que Ml. 1,8 comparou ao chacal ou
avestruz. Esta perspectiva retrata apenas uma consideração, entretanto
chamou-nos muito a atenção, nos despertando para futuras pesquisas sobre os
lamentos fúnebres no AT.
Continuando a
pesquisa sobre ritos fúnebres uma inconsistência textual nos fez averiguar algo
ultrajante aos judeus, uma vez que era inconcebível a cremação dos mortos, pois
enquanto existissem ossos a alma subsistiria na concepção judaica[1]. Tal
prática era comum de outros povos da época, principalmente em ritos fúnebres de
reis. E esse fato causou-nos estranheza, pois em (1 Sm 31,12) após a morte de
Saul e seus filhos, os habitantes de Jabes-Gileade tiraram seus corpos dos
muros, queimaram e somente depois enterram suas ossadas[2]. Parece-nos
esta uma infração grave.
Com relação à
passagem que Jessé envia Davi a Saul temos observações mais no âmbito da
curiosidade do que de fato hermenêuticas. Nas traduções existentes em língua
portuguesa, duas palavras se fundem: wughediy e um izuym. Sendo estas traduzidas por “um cabrito”. Todavia, como
observamos acima, são duas palavras distintas, a primeira fazendo menção a um
filhote, portanto um cabrito, enquanto a segunda palavra demonstra uma fêmea
adulta, ou seja, uma cabra. E qual a relevância de tal afirmação para o texto?
Poderíamos nos perguntar neste momento.
A questão está no cuidado que Jessé teve para com Davi.
Isto nos mostra um pouco da figura desse pai que é citado superficialmente.
Levemos em consideração que Davi deveria ir de jumento e que tal transporte
demanda tempo. Devemos também imaginar as condições climáticas e de
pavimentação, ou seja, terra batida. Assim, Jessé preparou o filho para a longa
viagem, dando-lhe pão, e vinho, que acabariam primeiro e posteriormente uma
cabra, com seu cabritinho, uma vez, que a fêmea só produz leite enquanto seu
filhote não é desmamado. Dessa forma, Davi teria leite e ainda poderia fabricar
queijo e quando ao palácio chegasse ainda possuiria um suvenir para dar ao rei.
O fato de ter deixado por último a Davi, quando de sua
unção levanta-nos duas possibilidades: a primeira seria o cuidado de Jessé para
com Davi seria este frágil? Por que tanto zelo ao enviá-lo ao rei, já que
anteriormente esquecera-se de levá-lo a presença de Samuel? Ou a segunda
alternativa que seria a “anomalia”, ou melhor, por ser “rosado”, diferente dos
demais de sua tribo, talvez Davi que causasse vergonha a Jessé e este ainda
poderia temer que seu filho sofresse preconceito.
Ainda sobre Davi e suas tradições, concordamos com
Donner, de que Davi provavelmente já atuava de certa forma como miliciano no
Sul nos tempos em que Saul era rei no norte e que o encontro dos dois se daria
não mediante a corte, mas no evento de Golias.
Certamente,
se pode ponderar que na época do reinado de Saul, Judá já se encontrava nas
mãos de Davi, que havia fundado um reino judaíta independente em Hebrom...essas
reflexões parecem consolidar a suposição de que o sul judaíta da Palestina não
tenha pertencido ao reino de Israel sob Saul (2 Sm. 2,8)[3]
A nosso ver Davi já vinha atuando com um
exército e ajudando a Aquis, no sentido de aprender a respeito das investidas
militares dos filisteus e de certa forma estar perto de seu inimigo. Assim, Davi
ia tomando conta da rota de comércio e somando riquezas.
O capítulo 1 Sm 17 vem entrecortado de
questões duvidosas.Saul não conhecia Davi embora em nossa perícope o mesmo
fosse seu carregador de armas do rei. E se assim fosse porque o mesmo não
estava junto ao exército?
Nos
versículos 52 e 53 vemos que Israel e Judá estavam juntos na peleja: Então, os homens de Israel e Judá se
levantaram, e jubilaram, e perseguiram os filisteus, até Gate e até às portas
de Ecrom. E caíram filisteus feridos pelo caminho, de Saaraim até Gate e até
Ecrom. Então, voltaram os filhos de Israel de perseguirem os filisteus e lhes despojaram
os acampamentos.
Houve ainda, em Gobe, outra peleja contra os
filisteus; e Elanã, filho de Jaré-Oregim, o belemita, feriu a Golias, o geteu,
cuja lança tinha a haste como eixo do tecelão. (2Sm 21.19).[4]
Nossa perícope
retrata uma tentativa de mostrar Davi ante a corte de Saul, mas tal fato
provavelmente deve ter ocorrido somente posteriormente, quando Saul almejando
ficar mais próximo desse homem que estava agradando o povo, deu sua filha Micol
em casamento a Davi, no propósito de manter seu inimigo por perto.
Logo a peleja
relatada em 1 Sm 17, segundo nossa perspectiva, aconteceu da seguinte
forma: Os filisteus ameaçavam o reino do
Norte (Saul) entrando em Socó, ou seja Judá. Davi ao ouvindo falar da peleja foi
ao encontro de Saul não para ajudá-lo, mas para defender suas próprias terras (Sul).
Ao chegar lá
começou uma guerra corpo a corpo. Elanã, braço direito de Davi, matou Golias e Davi cortou-lhe a cabeça, entrando em
Jerusalém a empunhando. O povo ao avistar a cabeça de Golias nas mãos de Davi
começou a celebrar o filho de Jessé e não ao rei Saul. A partir daquele momento
Saul então percebe a ameaça que Davi representava para ele. E por tal motivo
perturba-se. Pois que rei não ficaria perturbando ao perceber seu reinado
ameaçado? E isto não significa dizer que tal soberano encontra-se possesso, mas
apenas amargurado, depressivo e apreensivo.
Estas foram questões que no decorrer da pesquisa se
apresentaram. Percebemos mediante o texto que Saul não era tão ruim como o
texto pretende mostrar. Era apenas um homem que se viu prestes a perder o trono
para um jovem que vinha conquistando o apoio dos anciãos do Sul.
A exegese levantou também questões pertinentes a Davi,
não estando este na corte de Saul, mas como um miliciano que vinha nos tempos
do reinado de Saul conquistando terras e a confiança do povo. Assim a imagem do Davi pastor, tocador de
harpa e frágil, perde lugar para um Davi de guerra, homem de sangue. Contudo,
isso em nada modifica o fato de tanto Saul quanto Davi terem sido escolhidos e
usados para os propósitos de Yahweh.
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