sexta-feira, 27 de julho de 2012

Contexto histórico e político em Marcos 12. 1-12




Contexto político no Evangelho de Marcos



Como já vimos anteriormente, os romanos permitiam a existência de governantes nativos vassalos de Roma na Palestina. E Herodes fora um desses. Embora o senado romano tenha aprovado seu ofício o mesmo foi forçado a obter o controle da Palestina mediante o poder de armas, já que por ser idumeu (descendente de Edom e Esaú) não era visto com bons olhos pelos judeus.
Apesar das atrocidades cometidas por ele como governante astuto, invejoso e cruel sua política foi eficiente e tentou após atrozes atos conciliar-se com o povo, reformando e embelezando o templo de Jerusalém.
Assim, após sua morte, deixou grande legado aos herdeiros: o Templo em Jerusalém.
Contudo o mesmo constituiu obra morosa, segundo o evangelho de João, Jesus pregara num Templo ainda inacabado.
No ano em estudo a política se apresentava com o Império Romano de Cláudio, sendo Pôncio Pilatos procurador da Judéia e, Antípas tetrarca da Galiléia.
Como sumo sacerdote estava José Caifás, genro de Anás (Jo. 18:13), sendo este o responsável por presidir o Sinédrio.
Na época o sacerdócio era o principal poder político, atuando o sacerdote como conselheiro junto ao governador romano. Por possuir influência sobre a população era capaz de moldar a opinião pública (como o ocorrido na crucificação de Jesus).  
Além desses, grupos como: fariseus, saduceus, zelotes e herodianos, também exerciam poderes políticos.
Em tal período a religião confundia-se com política e quem detinha o poder no Templo conseguia manipular o povo. Logo, o Templo, a sinagoga e o sinédrio eram os arquétipos do poder político da época. Vejamos cada um separadamente.



Sinédrio


Era o Supremo concílio dos judeus (Assembléia) e equivalia ao senado dos gregos e romanos. Suas atribuições se davam no âmbito legal e religioso.
Era composto por 70 membros cuidadosamente escolhidos, como os escribas e possuía certa autonomia dado por Roma.



Sinagoga


Era o lugar onde se celebrava o culto religioso e provavelmente teve início no período do cativeiro babilônico como substituto do Templo. Foi introduzida por Esdras na Palestina e logo se difundiu por todo Israel.
Desta forma, logo surgiram notícias a respeito da existência de sinagogas em vários lugares onde havia judeus fora da Palestina.
Os membros (homens da Sinagoga) eram em números indeterminado e sua reunião dava-se a cada sábado para adoração e ao quinto dia da semana para ouvir a leitura das escrituras. Contudo qualquer pessoa e em qualquer tempo, podia entrar na sinagoga.



Templo


O templo representava o centro da vida judaica da época, pois era ali que todos os judeus se reuniam para prestar culto ao Deus YHWH. Tanto moradores locais como judeus estrangeiros.
Chamado de morada do Deus único, era administrado pelos sacerdotes que tinham grande poder sobre o povo, chegando a julgar quem estava mais perto de Deus, ou seja, quem o adorador mais puro.
Devida a tal autoridade, por parte dos sacerdotes, o Templo acabou por ser tornar a vida política e religiosa da época.
Neste período ele possuía riquezas imensas, sendo considerado o grande tesouro nacional e toda a Cúpula governamental agia a partir dele.
Desse modo a morada de Deus, o lugar de adoração ao Deus Santo e puro foi tornando-se impuro pela corruptela do governo. (Lc. 19: 45-46; Mt. 21:12-13; Mc. 11:15-17)



Contexto Histórico do Evangelho de Marcos



A datação do evangelho de Marcos é imprecisa, mas tudo leva a crer que tenha se dado nos primórdios do período da constante crise entre a Judéia e Roma, crise essa que desencadeou na destruição do Templo em 70.EC.
Dessa forma, o cenário religioso, geográfico e histórico permanece o mesmo do tempo de Cristo. Mantendo-se assim toda insatisfação dos judeus para com o Império Romano.
É muito provável que sua compilação tenha ocorrido em 65EC, embora os críticos divirjam quanto à datação. Muitos apregoam que tal composição se deu antes ou então posteriormente a morte de Pedro (entre 55 – 65 EC).
O fato é que o escritor de Marcos não é um discípulo ocular dos fatos, não é conhecido e sua teologia se dá sob a óptica de Pedro.
Muitos apontam para João Marcos, um pupilo de Pedro que por muitas vezes também se encontrou em contato direto com Paulo.
Outra questão a ser considerada é que os primeiros cristãos desconheciam o autor do evangelho.
O manuscrito mais antigo que nos preservou informações sobre o livro de Marcos foi o papiro Chester Beatty (p45) do século III, os próximos manuscritos já são testemunhas principais de toda Bíblia, O Códice do Vaticano (B) e o Códice Sinaítico (a) do século IV.
Segundo testemunho de Papias[1]e da tradição da Igreja antiga, há uma alegação por parte deste de ter ouvido na juventude um relato de um cidadão de Éfeso[2]:



Marcos na qualidade de hermeneuta de Pedro, anotou com cuidado, mesmo que não em forma artística tudo o que lembrava que o Senhor tinha dito e feito...]

“...ele não conheceu o Senhor, nem foi discípulo dele, mas de Pedro, mais tarde, como eu já disse, que costumava ensinar no estilo dos Chreiai (termo técnico para historias  curtas e sem recursos artísticos), não como alguém que quisesse dar uma forma aos relatos sobre o Senhor. Marcos, portanto, não cometeu nenhum erro quando anotou

algumas coisas desta maneira. Com só uma coisa ele tomava muito cuidado, com muita fidelidade na transmissão, ou seja, que não esquecesse nada do que tinha ouvido e dissesse alguma coisa que não fosse verdade”.



Entretanto, muitos pesquisadores discordam de Papias dizendo não ter o excerto valor histórico, entre eles: Marxsen, Bultmann, Conzelmann, Vielhauer, Haenchen, Niederwimmer e outros. Por outro lado há os que concordem que em termos gerais Papias relatou os fatos corretamente. Dentre eles: Holtzmann, Hauck, Schniewind, Wikennhauser, Schmid e por último, Kürzinger, Gnilka, Hengel e outros.
Discordâncias à parte, a questão em voga é o que motivou João Marcos a transcrever uma espécie de diário de alguém que vivenciou os feitos dos Messias. Assim, o que explicaria a autoria e o porquê da necessidade do registro escrito já que os ensinamentos de Cristo eram passados pela tradição oral entre as comunidades?
O Evangelho de Marcos possuía tamanha importância que serviu de base aos evangelhos de Matheus e Lucas cujas escritas apresentam-se de forma bem mais rebuscadas.
As evidências apontam para a seguinte teoria: quando a perseguição dos Cristãos começou a se dar de forma mais austera, Pedro, Paulo e outros que continham as reminiscências dos ensinamentos de Jesus perceberam a necessidade de registrar por escrito, ante a eminência de suas mortes, todo ministério de Cristo a fim de que as boas novas fossem disseminadas ao maior número de pessoas e de forma mais fidedigna possível.
Assim a tradição oral já não mais se mostrava uma forma eficaz em conservar a vida e ministério do Messias. Logo, é provável que João Marcos tenha sido incumbido de uma forma rápida a registrar toda vivência de Pedro para com o filho de Deus. 
Outra particularidade do livro é que o mesmo tem por início a frase: Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Não há explicação sobre a infância e o nascimento do menino Jesus. A narrativa já começa em seu precursor João Batista e o posterior batismo do Messias. Muito diferentemente dos outros sinópticos que narram à origem do Cristo. Tal fato se deve ao público que o Evangelho de Marcos pretendia alcançar, ou seja, os romanos.
Não havendo necessidade de assegurar para o público que Jesus era o messias anunciado pelos profetas, uma vez, que a cultura dos Romanos era outra.
Dessa forma, Marcos apresenta Jesus Cristo como o filho de Deus que veio salvar todos aqueles que nele crerem e não somente os judeus. A linguagem e a abordagem é outra por ser um público-alvo diferente.



No próximo tópico veremos o texto como mensagem.







[1] Bispo de Hierápolis que nasceu por volta do ano 70 EC.
[2] Excerto retirado do livro: POHL, Adolf. O Evangelho segundo Marcos, comentário da esperança. p. 15. Curitiba: Esperança. 1998.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Uma leitura exegética de Marcos 12. 1-12 - Parte II








Contexto Histórico-Social do tempo do evento



Roma em 63 AEC chegou ao Oriente médio começando as invasões partas e árabes e através de tais conquistas a Palestina passou a fazer parte do Império Romano. Posteriormente, Herodes 40-4 AEC obteve de Roma o título de rei e foi sob a dinastia Herodiana, por volta do ano 6 AEC que Jesus nasceu.
Após a morte de Herodes seu reino foi dividido em três e o mesmo confiado aos filhos, sendo a Galiléia e a Peréia entregue ao comando de Herodes Antipas (4 EAC – 39 EC), enquanto Arquelau, reinava sobre a Judéia,  Samaria e Iduméia. Entretanto, devido o ódio que os judeus sentiam deste, o mesmo foi exilado em Gálias e substituído por procuradores romanos, dentre os quais, Pôncio Pilatos (26-36 EC). As demais cidades do reino foram entregues a Felipe.
A sociedade da época estava dividida em zelotes, herodianos, centuriões, publicanos, escribas, saduceus, fariseus, samaritanos. E um novo grupo começava a emergir: os seguidores de Cristo.
Durante muitos anos o evangelho existiu quase que exclusivamente sob a forma oral. Os apóstolos narravam os acontecimentos da vida de Jesus e desses sermões surgiram posteriormente o texto escrito. As palavras de Cristo eram transmitidas, assim, no ensino catequético da Igreja Primitiva.
A sociedade era constituída por um misto de culturas, religiões e convicções políticas. Oriundas de costumes judaicos e romanos.
Não se pode dessa forma desmembrar os grupos que compunham Israel no século I sem adentrar ao campo da política uma vez que tudo para esta sociedade apresentava cunho político.
Segundo a óptica de Robert GUNDRY, em seu livro, Panorama do Novo Testamento, p. 23 e 29 pode-se vislumbrar um pouco melhor a sociedade de então:



“4 milhões de judeus viviam sob o domínio deste vasto Império, o que representava ± 7% da população total do mundo romano [...]. Havia portanto um grande número de habitantes judeus naquela época, dos quais a sua grande maioria, principalmente na região da Palestina, era pobre e em geral alguns eram lavradores e outros porém viviam do comércio e da pesca.
A escravidão entre os judeus não era uma prática muito grande pois a maioria dos judeus palestinos eram tidos como cidadãos livres. Na sociedade judaica não havia muitos desníveis sociais por causa da influência niveladora do judaísmo”[...].


Roma dava certa hegemonia aos judeus e os sumos sacerdotes permaneciam no poder ajudando o governador romano. Há ainda de salientar a importância que o sinédrio, as sinagogas e o templo representavam para esta sociedade.


Sociedade

Como anteriormente mencionado, a sociedade da época engloba um misto de grupos político-sociais, vejamos cada um separadamente.


Zelotes

Este grupo originou-se a partir dos fariseus, contudo seu cunho era mais político que religioso. Era composto em sua maioria por pequenos camponeses e por pessoas oriundas das camadas mais baixas da sociedade que se viam massacradas pelo fisco.
Eram nacionalistas ao extremo e almejavam destituir Roma do poder, pois eram contrários ao governo de Herodes na Galiléia. Seu verdadeiro anseio era restituir a monarquia a YHVH, retomando assim o messianismo do êxodo.
           

Herodianos


Não podemos chamar os herodianos de um grupo social propriamente dito, mas,o fato é que representavam a dependência dos judeus aos romanos, uma vez que possuíam o poder da Galiléia nas mãos. Tinham a incumbência de capturar agitadores e eram considerados os principais opositores dos zelotes. (Mt. 22.16; Mc. 3:6; Mc.12:13)


Centuriões e Publicanos


Os centuriões representavam o poder militar da época e sobre serviço de Roma comandavam 100 soldados. Já os publicanos, embora também representassem o poder romano outorgado, sua incumbência maior estava no âmbito de recolher impostos e por tal motivo essa classe era odiada pelos judeus. (Mt. 9:9; Mc. 2:14; Lc. 5:27).


Escribas


Também conhecidos como doutores da lei possuíam grande prestígio junto à sociedade da época. Por serem intérpretes das escrituras (copistas) os mesmos eram dotados de um amplo campo do saber (administração, direito e educação), e por tal motivo influenciavam a escola, o sinédrio e as sinagogas.
Não eram os mais abastados economicamente, mas, devido ao seu “poder” político-intelectual, tornaram-se os guias espirituais do povo, determinando, até mesmo, as regras para dirigir o culto. 


Saduceus


Este grupo era imponente, formado pelos grandes proprietários de terras (anciãos) e pelos membros da elite sacerdotal. Eram os responsáveis pelo controle do Sinédrio e assim detinham o poder nas mãos, sendo os maiores colaboradores do império romano, fazendo desta forma uma política de conciliação pois temiam perder seus cargos e privilégios. Já no âmbito da religião mantinham uma postura conservadora aceitando somente a lei escrita.


Fariseus


Tratava-se da seita mais segura da religião judaica (At. 26:5) e fora criada no período anterior à guerra dos Macabeus. Seu propósito era o de oferecer resistência ao espírito helênico que havia se instaurado entre os judeus.
Eles sustentam a doutrina da predestinação que consideram em harmonia com o livre arbítrio. Acreditavam na imortalidade da alma e do espírito e, na ressurreição do corpo. Por fim, criam nas recompensas e castigos da vida futura de acordo com os atos cometidos em vida.
A essência de sua doutrina era viver em conformidade com a lei indiferente de sua consequência. Por exemplo, guardar o sábado era algo extremamente importante. No Sabah[1], ou dia do Senhor, não podiam nem ao menos retirar um inseto pousado sobre a roupa, por ser isto considerado trabalho, e no dia santo era inconcebível trabalhar.
Embora buscassem primeiramente as coisas divinas, ou seja, possuíam boas intenções religiosas (a principio), passaram a amar mais a lei do que a Deus, fazendo tudo de forma mecânica, sem o primeiro amor e fervor de Moisés a quem tinham como profeta e exemplo a ser seguido.


Samaritanos
 

Não pertenciam ao judaísmo propriamente dito, pois era um grupo característico da região palestinence. Eles observam escrupulosamente o Pentateuco mais não aceitavam os outros escritos do Antigo Testamento e frequentavam o Templo de Jerusalém.
Eram considerados pelos judeus como raça impura por possuírem miscigenação com estrangeiros. E assim sendo, os Samaritanos motivavam a contenda dos fariseus para com os novos Cristãos, já que os seguidores de Cristo admitiam aos oriundos de Samaria os mesmo privilégios dos judeus no âmbito religioso. (Lc. 10: 29-37; 17: 16-18; Jo. 4: 1-42).



A economia no período de Cristo


A economia da época estava fincada basicamente sobre dois pilares: a agricultura e a pecuária. Estas serviam para subsistência do povo, exportação e sustento dos trabalhos no Templo. 


Profissões e comércio

A principal profissão do período era o artesanato. O próprio artesão fazia e vendia suas mercadorias. Todos  deviam possuir uma profissão, mesmos os escribas. As profissões mais praticadas por estes homens considerados “doutores da lei” eram: fabricante de prego, comerciante de linho, padeiro, curtidor, copista, fabricante de sandálias, arquiteto, comerciante de betume, alfaiate.
Já outras profissões eram tidas como desprezíveis e por tal motivo jamais poderiam ser praticadas por homens tão cultos, como por exemplo, a de tecelão.
A Síria era a principal exportadora de produtos para Jerusalém, dentre eles, a lã em forma de tapetes, cobertores e tecidos. Além destes produtos, a venda de unguentos e resina perfumada também era praticada.
A arquitetura era outro grande ponto de expansão em Jerusalém, uma vez que a família herodiana investia demasiadamente em obras no referido período.
Além dessas profissões havia ainda médicos, barbeiros, lavadeiras de roupas (ocupação tipicamente feminina) e em relação ao Templo existiam os trocadores (que se ocupavam do dinheiro).
Outra atividade importante era a pesca muito praticada devida geografia hidrográfica da região[2] pois havia na Palestina uma grande variedade de pescado abastecendo a nação e até exportando.


Jerusalém: centro comercial da Palestina


Jerusalém era o centro do comércio e transações econômicas. Por ser privilegiadamente a cidade localizada entre portos (Ascalon, Jafa, Gaza e Acra) o mar tornara-se uma rota bastante útil, principalmente com as contribuições marítimas por parte de Roma.
Dois aspectos contribuíram para que Jerusalém abrigasse essa importante atividade comercial, primeiro por ser a capital do Estado e a cidade do Templo e; depois por ser centro religioso e político. Além, de abrigar a corte, a aristocracia sacerdotal e também a nobreza leiga, que traziam consigo grandes recursos financeiros.
Fora Jerusalém, outra importante cidade era Cesaréia que juntamente com a cidade do templo formava uma rota comercial por onde passavam soldados, mensageiros, comerciantes, diplomatas, etc. Gerando, desta forma muito mucro e dividendos para o império.
Dentre os impostos cobrados, existia um específico ao Templo e deveria ser pago em moeda Tíria5 (tetradracma ou estatere). Posteriormente esta mesma moeda começou a ser utilizada também para transações comerciais, assim, uma moeda estrangeira tornou-se moeda do santuário.
Além desse, existia ainda outro importante imposto o  publicum. Este incidia sobre a compra e venda de qualquer produto. Tal taxa foi instituída pelos romanos e cobrada na importação e exportação nas divisas regionais. Os grandes responsáveis pelas cobranças de tais impostos eram os publicanos.

Continua...



[1] Sabah ou Sabá na forma transliterada para o português do Brasil, ou Sabat no português europeu.
[2] A geografia hidrográfica da região se dava através do mar mediterrâneo cortado por rios e muitos lagos.

sábado, 21 de julho de 2012

Uma leitura de Marcos 12. 1-12 - tradução e delimitação




Tradução da Perícope de Marcos 12.1-12 por conectivos


12:1 Καὶ ἤρξατο αὐτ οῖς ἐν παραβολαῖς λαλεῖν·

E começou ele no meio deles uma parábola a falar. 

ἀμπελῶνα ἄνθρωπος ἐφύτευσεν καὶ περιέθηκεν φραγμὸν καὶ ὤρυξεν ὑπολήνιον καὶ ᾠκοδόμησεν πύργον

Uma vinha um homem plantou e colocou ao redor uma cerca e cavou um deposito debaixo do lagar e edificou uma torre, 

καὶ ἐξέδετο αὐτὸν γεωργοῖς καὶ ἀπεδήμησεν.

e a arrendou para uns  lavradores e viajou. 

12:2[1] καὶ ἀπέστειλεν πρὸς τοὺς γεωργοὺς τῷ καιρῷ δοῦλον

E enviou para os lavradores, no tempo, um servo, 

ἵνα παρὰ τῶν γεωργῶν λάβῃ ἀπὸ τῶν καρπῶν τοῦ ἀμπελῶνος·

a fim de que ele recebesse deles o fruto do vinhedo. 

12:3 καὶ λαβόντες αὐτὸν ἔδειραν

E eles o tomaram e, o bateram 

καὶ ἀπέστειλαν κενόν.

e o mandaram vazio.  

12:4 καὶ πάλιν ἀπέστειλεν πρὸς αὐτοὺς ἄλλον δοῦλον·

E mais uma vez enviou para eles outro servo. 

κἀκεῖνον ἐκεφαλίωσαν καὶ ἠτίμασαν.

 E a este[2] feriram a cabeça e o insultaram.    

12:5 καὶ ἄλλον ἀπέστειλεν·

E a outro enviou. 

κἀκεῖνον ἀπέκτειναν,

E a este mataram,

καὶ πολλοὺς ἄλλους, οὓς μὲν δέροντες, οὓς δὲ ἀποκτέννοντες[3].

e muitos outros os quais enviou uns bateram, e outros mataram.  

12:6 ἔτι ἕνα εἶχεν υἱὸν ἀγαπητόν,

E ainda tendo ele um, seu filho amado, 

ἀπέστειλεν αὐτὸν ἔσχατον, πρὸς αὐτοὺς λέγων

enviou-o por último, de modo que ele mesmo disse: 

ὅτι ἐντραπήσονται τὸν υἱόν μου[4].

pois deverão ter respeito por meu filho. 

12:7 ἐκεῖνοι δὲ οἱ γεωργοὶ πρὸς ἑαυτοὺς εἶπαν

Mas aqueles lavradores entre si disseram: 

ὅτι οὗτός ἐστιν ὁ κληρονόμος·

visto que este é o herdeiro, 

δεῦτε ἀποκτείνωμεν αὐτόν, καὶ ἡμῶν ἔσται ἡ κληρονομία.

vamos e matemo-lo, e será nossa a herança.  

12:8 καὶ λαβόντες ἀπέκτειναν αὐτὸν καὶ ἐξέβαλον αὐτὸν ἔξω τοῦ ἀμπελῶνος[5].

E tomando-o, o mataram e o lançaram fora da vinha. 

12:9 τί [οὖν] ποιήσει ὁ κύριος τοῦ ἀμπελῶνος[6];

Que pois fará o Senhor da vinha? 

ἐλεύσεται καὶ ἀπολέσει τοὺς γεωργοὺς

Virá, e destruirá os lavradores, 

 καὶ δώσει τὸν ἀμπελῶνα ἄλλοις.

e dará a vinha a outros.

12:10 οὐδὲ τὴν γραφὴν ταύτην ἀνέγνωτε·

Também não lestes o que está escrito nas escrituras: 

λίθον ὃν ἀπεδοκίμασαν οἱ οἰκοδομοῦντες,

a Pedra, que rejeitaram os edificadores, 

οὗτος ἐγενήθη εἰς κεφαλὴν γωνίας·

esta veio a ser em cabeça de esquina.     

12:11 παρὰ κυρίου ἐγένετο αὕτη

Da parte do Senhor veio a ser isto 

καὶ ἔστιν θαυμαστὴ ἐν ὀφθαλμοῖς ἡμῶν[7];

e maravilhosa coisa é aos nossos olhos; 

12:12 Καὶ ἐζήτουν αὐτὸν κρατῆσαι,

E procuravam se apoderar dele, 

καὶ ἐφοβήθησαν τὸν ὄχλον,

mas temiam a multidão, 

ἔγνωσαν γὰρ ὅτι πρὸς αὐτοὺς τὴν παραβολὴν εἶπεν.

pois reconheciam que para eles era aquela parábola. 

 καὶ ἀφέντες αὐτὸν ἀπῆλθον[8].

E assim, eles o deixaram e partiram.

  

Delimitação do texto


Mediante a proposta inicial de uma exegese no evangelho de Marcos tomamos por base a perícope que se encontra no capítulo 12 versículos de 1 ao 12.
Tal excerto retrata uma parábola apresentada por Jesus aos principais dos sacerdotes, escribas e anciãos; Quando Cristo se encontrava em Jerusalém andando pelo Templo acompanhado de seus discípulos.
Vários são os acontecimentos que marcam a volta de Cristo à Jerusalém, como o episódio da figueira seca, a fé em Deus pai, a purificação do templo, dentre tantos outros. Entretanto, ao nosso estudo, cabe-nos observar os versículos 27:33, do capítulo anterior à nossa perícope, a saber: o capítulo 11 de Marcos.
Tais versículos compõem uma espécie de sumário do que ocorreria posteriormente na parábola dos lavradores maus (Mc. 12.1-12) explicada por Cristo àqueles que outrora tentavam pegá-lo em alguma palavra.
Nosso excerto tem início mediante essa tentativa por parte dos sacerdotes, escribas e anciãos em tentar a todo custo condenar Jesus. Assim sendo, o Messias lança sobre eles a parábola aqui estudada. E tal passagem começa marcada pela conjunção  Καὶ (e) que é característica de textos narrativos, seguida de um verbo de ação aoristo indicativo médio ἤρξατο (começou).
Esse verbo tem por designação uma ação simples, indefinida, que não faz referência à sua duração, mas cujo foco é enaltecer o fato em si.
Assim, podemos facilmente identificar que o texto que até então se tratava de um discurso (Mc. 11) passa a iniciar a partir desse verbo de ação, uma parábola; marcando de forma bem explícita o início de nossa perícope, com todos os atributos que lhe são inerentes: verbos de ação, inserção de novos personagens, mensagem, etc.

Já o final de nossa perícope é marcado pelo receio dos “homens do Templo” em prender Jesus por temer uma revolta por parte do povo, finalizando assim a tentativa por parte desses, a saber: principais dos sacerdotes, escribas e anciãos no versículo 12 do capítulo 12 de Marcos e posteriormente ao fato, há inclusão de novos personagens, os fariseus e herodianos, com o propósito de pegarem Jesus nalguma palavra.
É exatamente essa inserção de novos personagens (Mc. 12.13) que marca o desfecho da passagem por nós estudada.            
Se nossa perícope tem início com a conjunção Καὶ (e) mais um verbo aoristo. O término da mesma se dá de forma semelhante, ou seja, por mais uma conjunção Καὶ (e), seguida de um verbo,  ἀποστέλλουσιν (enviaram-lhe, enviar), que dessa vez encontra-se no presente do indicativo, afirmando assim, que logo após a parábola de Cristo contra tais homens, os mesmos não ficaram inertes. Pois, trataram logo em seguida de confabular outra maneira de pegar Jesus. Enviando dessa forma, novos personagens, ou seja, retirando o foco de suas próprias pessoas e atribuindo tal fato a outros.



[1] Aparato Crítico: a conjunção  καὶ  que aparece como parágrafo na versão LXX por nós utilizada, não aparece na versão Traduction Oecuménic de La Bible (1988). Em tal versão trata-se apenas de um ponto continuativo do texto.
[2] A conjunção coordenativa e adjetiva conjuntiva traduzida por aquele, será trocada por pelo pronome demonstrativo este para uma melhor coesão textual.
[3] Aparato Crítico: diferentemente desta edição, as edições da New International Version (1983) e La Bible: versión Popular (1983) a partir do verbo ἀποκτέννοντες (matar), inicia-se um novo parágrafo em lugar da vírgula que nos é apresenta na tradução acima descrita.
[4] Aparato Crítico: a partir do pronome pessoal (Eu) μου indicando a posse do substantivo mencionado anteriormente, a saber, filho, ou seja, meu filho, ou filho meu. Há o início de um novo parágrafo na versão New International Version (1983). Ficando assim: “Filho meu. Mas aqueles lavradores disseram entre si:..”
[5] Aparato crítico: semelhantemente o substantivo ἀμπελῶνος (vinha) aparece nas versões Today’s English Version (1976), La Bible Français Courant (1982), New International Version (1983) e La Bible: versión Popular (1983) marcando início de parágrafo.
[6] Aparato Crítico: Na versão Nestlê(1993)  ἀμπελῶνος (vinha) é um subparágrafo, enquanto que nas versões  La Bible: versión Popular (1983) e na Revised English Bible (1989) constituí parágrafo.
[7] Aparato Crítico: não consititui parágrafo nas versões Textus Receptus (Oxford, 1889), Westcott e Hort, The New Testament in the Original Greek (1881), Apostoliki Diakonia (1988), Nestle-aland (1993), Merk (1992) e Die Bibel  nach der Übersetzung Martin Luthers (texto revisado 1984).
[8] Aparato Crítico: constituem ponto parágrafo nas versões: Textus Receptus (1889), Westcoot e Hort The New Testament in the Original Greek (1881), Apostoliki Diakonia (1988), Merk (1992, Revised Standart Verson (1971) e New Revised Standart Version (1990).